SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Senadores do México partiram para a agressão física nesta quarta-feira (27) após um debate acalorado sobre supostos pedidos da oposição para que os Estados Unidos intervenham militarmente contra os cartéis do narcotráfico na América Latina.

A briga envolveu Alejandro Moreno, do opositor PRI, e Gerardo Fernández Noroña, líder governista e presidente do Senado, que trocaram empurrões. O político da oposição ainda deu um tapa no pescoço do seu adversário.

Os dois já tinham discutido dias atrás, quando Moreno apresentou à Procuradoria-Geral uma denúncia contra o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, por supostos vínculos com cartéis mexicanos. Ele também insinuou que setores do governo de esquerda poderiam estar ligados a atividades ilegais, o que Noroña rejeitou de forma veemente.

Durante sessão no plenário desta quarta, Moreno subiu à tribuna para cobrar a palavra que, segundo ele, lhe havia sido negada. Depois de encarar Noroña, o opositor o empurrou várias vezes e chegou a dar um tapa em seu pescoço. Ainda derrubou um homem que tentou apartar.

O episódio agravou o clima de hostilidade entre os blocos da Casa. A disputa política se acirrou porque a maioria governista acusa o PRI, de Moreno, e o conservador PAN de defenderem uma intervenção militar dos EUA no México, algo que as legendas negam. A base da acusação foi uma entrevista da senadora Lilly Téllez, do PAN, ao canal Fox News, em que ela afirmou haver infiltração dos cartéis no governo mexicano.

Os parlamentares envolvidos na briga enfrentam desgaste político: Moreno responde a um processo por suspeita de corrupção durante seu mandato como governador de Campeche (2015-2019), enquanto Noroña foi criticado após vir a público que possui uma casa avaliada em cerca de US$ 640 mil (R$ 3,5 milhões).

A polêmica ocorreu ainda diante de pressões externas. Veículos de imprensa dos Estados Unidos noticiaram, há duas semanas, que o presidente Donald Trump ordenou às Forças Armadas combater cartéis da América Latina classificados por Washington de organizações terroristas globais.

A medida é uma das mais agressivas escaladas do governo republicano na guerra às drogas, uma vez que amplia o papel das Forças Armadas em funções tradicionalmente atribuídas a agentes de aplicação da lei —forças policiais, no geral. Entre os objetivos, está conter o fluxo de fentanil —responsável por uma crise de opioides no país— e outras drogas ilegais.

Historicamente, o uso das Forças Armadas americanas em ações antidrogas na América Latina, comum especialmente na Colômbia e na América Central, se dava sob a justificativa de apoio a autoridades policiais, como em treinamentos conjuntos e fornecimento de equipamentos. A nova medida, no entanto, abre espaço para um papel mais ativo, com possibilidade de captura ou neutralização direta de alvos, o que especialistas em direito internacional alertam poder configurar violação de normas globais —especialmente se ocorrer de maneira unilateral, sem consentimento dos países envolvidos.