RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Pesquisadores confirmaram pela primeira vez a presença de grupos familiares de muriquis-do-sul (Brachyteles arachnoides) no interior do Parque Estadual Cunhambebe, unidade de conservação que abrange quase 40 mil hectares na Costa Verde do Rio de Janeiro.

As imagens que registraram o flagrante foram feitas em meados de abril deste ano, segundo o Inea (Instituto Estadual do Ambiente), mas a descoberta inédita foi anunciada nesta quarta-feira (27), Dia do Muriqui, por meio de parceria entre o Projeto Muriqui Bocaina, o Inea e a mineradora Vale.

O registro foi obtido em área de difícil acesso com o uso de drones equipados com câmeras termográficas. A tecnologia, associada ao trabalho de monitores ambientais do parque, permitiu identificar dois grupos distintos de muriquis, totalizando 36 indivíduos. Até então, havia apenas relatos e vestígios da espécie no Cunhambebe.

Considerado o maior primata das Américas, o muriqui-do-sul é endêmico da mata atlântica e classificado como criticamente ameaçado de extinção pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). No Brasil, ele aparece na lista de espécies em perigo do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Estima-se que restem menos de 1.200 indivíduos em vida livre.

“Registramos os muriquis em duas localidades distantes entre si, o que sugere a presença de dois grupos. O parque abriga florestas bem preservadas e nossa expectativa é de encontrar outros na região”, afirma o biólogo Felipe Brandão, coordenador do Projeto Muriqui Bocaina.

Com hábitos discretos e deslocando-se pelas copas em grandes alturas, o muriqui exerce papel fundamental como “engenheiro da floresta”: ao se alimentar de frutos e folhas, dispersa sementes e ajuda na regeneração da mata atlântica. Conhecido por seu comportamento pacífico, o animal é considerado símbolo da biodiversidade do bioma.

O Parque Estadual Cunhambebe é o segundo maior parque do estado do Rio e vem acumulando descobertas recentes. Em 2023, foram registrados ali o formigueiro-de-cabeça-negra (Formicívora erytronotos), ave endêmica e criticamente ameaçada, e antas (Tapirus terrestris), espécie que havia sido considerada extinta no estado por mais de um século.

O secretário estadual do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, afirma que a confirmação dos muriquis representa um marco para a conservação da biodiversidade fluminense.

“É muito gratificante ver nossos esforços e políticas ambientais dando resultados positivos e protegendo o nosso patrimônio natural. Estamos construindo condições para o retorno de inúmeras espécies ameaçadas”, disse.

A gestão do Cunhambebe é realizada em modelo de parceria público-privada, com investimento previsto de R$ 17 milhões em cinco anos, dos quais parte é destinada ao monitoramento da fauna e a ações de conservação.