SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A tarifa efetiva dos Estados Unidos sobre todas as importações brasileiras é de 30%, estimou o banco Itaú, em dados divulgados nesta quarta-feira (27). O cálculo considera a sobretaxa de 50% imposta e as 694 isenções anunciadas pelo governo de Donald Trump em julho, com destaque para o setor de aeronaves.

A estimativa vem em linha com a análise do Goldman Sachs que calculou uma taxa efetiva de 30,8%, também considerando a lista de exceções.

Os economistas do banco estimam um impacto de 0,1% do PIB (Produto Interno Bruto). Segundo o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, em entrevista a jornalistas, o cálculo é feito com a taxa atual das tarifas e não considera possíveis aumentos futuros.

Integrantes do governo Lula (PT) e do STF (Supremo Tribunal Federal) consideram real a possibilidade de Trump aplicar novas sanções econômicas contra o Brasil e outras restrições a autoridades do país com o julgamento de Bolsonaro, que começa em setembro.

Membros do governo também temem o impacto econômico da recente decisão do ministro Flávio Dino, do STF, de que ordens judiciais e executivas de governos estrangeiros só têm validade no Brasil se confirmadas pela corte.

Por ora, os canais de negociação entre os países permanecem fechados. Na última terça, o presidente Lula voltou a se posicionar contra o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos com críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e à falta de regulamentação das chamadas big techs.

Segundo Mário Mesquita, as tarifas americanas devem gerar um choque de oferta e ter um impacto inflacionário nos EUA, o que reduz o espaço para cortes na taxa de juros do país. Há, entretanto, uma sinalização de redução para setembro, como afirmou Jerome Powell, presidente do BC americano em discurso.

“A dúvida que existe é sobre o tamanho do ciclo de cortes nos EUA. Temos uma visão de que eles não vão conseguir cortar tanto quanto o mercado espera, porque a economia segue forte e o desemprego, baixo e tem esse choque de oferta”, afirmou.

O Fed vem mantendo a taxa de juros entre 4,25% e 4,5% desde dezembro do ano passado.

Os economistas do banco também veem espaço para o dólar cair mais ante o real no futuro. Desde o começo do ano, a moeda americana registra queda 11,96%.

“O real se fortaleceu em linha com as outras moedas. Estamos vendo um episódio de enfraquecimento do dólar”, disse Mesquita. “Tem mais espaço para o dólar cair [globalmente]. O dólar caindo traria o real, mas não necessariamente trará.”

Segundo ele, as contas externas do Brasil e o estresse tarifário com o governo americano oferecem resistência à valorização do real.

O banco estima que o PIB brasileiro tenha um crescimento de 2,2% em 2025 (abaixo do projetado pelo Ministério da Fazenda, que prevê 2,5%) e de 1,5% em 2026.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo) deve superar a meta do BC em 2025, fechando o ano a 5,1%, e convergir à meta em 2026, a 4,4%, segundo o banco.

“A inflação implícita já tinha cedido e ela, normalmente, antecede o Focus que começou a cair. É, sem dúvida alguma, resultado da política monetária e um estímulo para o Banco Central manter a postura e não mudar a tática”, afirmou Mesquita, que já foi diretor de Política Econômica do Banco Central.

Na última segunda, o boletim mostrou que analistas projetam que o IPCA termine 2025 em 4,86% e alcance 4,33% em 2026. O limite da meta perseguida pelo BC é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Para a economista Julia Gottlieb, que integra a equipe de Mesquita, a previsão é que o BC comece a cortar juros no primeiro trimestre de 2026 -a autarquia terá reuniões em janeiro e março.

O banco projeta a taxa a 15% no final deste ano, e em 12,75%, para o fim de 2026. “A intenção do Banco Central hoje, de fato, comunicada de várias maneiras, muito insistente e consistentemente, é de ficar parado muito tempo. Se ele vai ou não fazer isso, vai depender da evolução dos dados”, disse Mário Mesquita.