BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de Minas Gerais indiciou o dono e um funcionário da padaria que vendeu uma torta supostamente contaminada em Belo Horizonte e que teria levado à morte da idosa Cleuza Maria de Jesus Dias, 75.
A corporação afirmou que uma junta médica concluiu que o alimento foi contaminado pela toxina do botulismo. Os dois foram indiciados sob suspeita de homicídio culposo (quando não há intenção), lesão corporal culposa e crime contra a relação de consumo.
A sobrinha de Cleuza, de 23 anos, e o namorado da jovem, de 24, também consumiram o alimento na época, em abril, e ficaram com sequelas, segundo a polícia.
Procurado, o advogado de Fábio Dias, proprietário da padaria Natália, não respondeu até a publicação da reportagem.
A defesa do padeiro Ronaldo de Souza Abreu afirmou que ele era recém-contratado na época do caso e não teria autonomia sobre a estrutura ou condições de funcionamento do estabelecimento.
“Sua função se limitava ao preparo dos alimentos, confiando que o ambiente oferecido por seus empregadores era adequado. Imputar a ele a responsabilidade por falhas graves e antigas do estabelecimento é injusto e desproporcional” afirmou o advogado Magno Dantas, em nota.
O inquérito será encaminhado ao Ministério Público, que decidirá pelo oferecimento ou não da denúncia.
A delegada Eliane Seda, da Delegacia de Defesa do Consumidor da Polícia Civil de Minas, afirmou que uma junta médica constatou a contaminação nos pacientes que ingeriram a torta.
A conclusão envolveu uma equipe de médicos, que contou com um profissional do setor de neurologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, peritos da polícia e membros da vigilância epidemiológica, do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde de Minas.
A constatação foi feita por meio do critério clínico epidemiológico, ou seja, sem considerar exames laboratoriais.
Em maio, um mês após o caso, a secretaria estadual havia afirmado que exames laboratoriais feitos em amostras dos pacientes e dos alimentos da padaria deram resultado negativo para botulismo.
A pasta voltou a ser procurada nesta quarta-feira (27), mas não retornou até a publicação da reportagem.
Após a idosa e o casal terem ingerido parte da torta, os jovens devolveram o alimento para o estabelecimento alegando que ele estava com odor e gosto azedo.
O alimento supostamente contaminado foi descartado na padaria, e por essa razão não chegou a ser periciado em exames laboratoriais, afirmou a delegada.
“O alimento ficou mais ou menos 20 minutos na casa das vítimas. No momento que o casal percebeu que a torta estava com o odor e o sabor desagradável, as pessoas que estavam na residência não consumiram. Então, a contaminação não ocorreu na residência, porque o tempo de permanência ali foi muito curto”, afirmou Seda.
Os sintomas de intoxicação por botulismo surgiram no dia seguinte, quando os três foram internados na UTI. A idosa morreu em maio, após ficar um mês internada em um hospital da capital mineira.
Já o casal ficou internado por cerca de duas semanas e ainda apresenta sequelas da suposta contaminação, como problemas de visão, perda de força neuromuscular e coordenação motora comprometida, segundo a delegada.
A padaria foi interditada ainda em abril pela Vigilância Sanitária por não possuir alvarás para funcionamento. Para a Polícia Civil, os alimentos que eram preparados no local estavam impróprios para o consumo.
“Estavam em condições insalubres. Vegetais e legumes, misturados com carne, alimentos destampados. [Um cenário em] que é muito fácil de haver uma contaminação cruzada”, disse a delegada.
O chefe do departamento de combate a corrupção e fraudes da Polícia Civil, Adriano Assunção, disse que a investigação apurou que tanto o dono da padaria quanto o funcionário foram negligentes no armazenamento e no preparo da torta que teria sido contaminada.
Os dois também foram indiciados sob suspeita crime contra a relação de consumo suspeitos de preparo e venda de produto impróprio para consumo.