BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão vinculado ao Ministério da Justiça responsável por fiscalizar a concentração de mercado no Brasil, abriu investigação sobre a venda de duas minas e dois projetos de exploração de níquel da mineradora britânica Anglo American para a MMG Singapore Resources, uma subsidiária da estatal chinesa China Minmetals.
A investigação foi determinada pela Superintendência-Geral do Cade em despacho publicado nesta terça-feira (26). O Apac (Procedimento Administrativo para Apuração de Ato de Concentração) apura se as companhias envolvidas na transação deveriam ter notificado o Cade sobre a compra.
Caso a Superintendência entenda que a venda deveria ter sido notificada previamente, o caso segue para o tribunal administrativo do Cade, que pode determinar aplicação de multa de até R$ 60 milhões e iniciar um procedimento administrativo sobre concentração de mercado.
A Anglo American foi procurada pela reportagem para comentar a apuração do Cade, mas ainda não enviou posicionamento.
A Anglo American, multinacional de origem sul-africana e britânica, decidiu vender no início deste ano sua planta de níquel em Barro Alto (GO) para a MMG. Além da unidade nessa cidade, entraram na negociação outra planta em Niquelândia (GO) e dois projetos novos de exploração, no Pará e em Mato Grosso.
O negócio, avaliado em US$ 500 milhões (o equivalente a mais de R$ 2,7 bilhões), marca a entrada da chinesa MMG no mercado brasileiro de níquel, ampliando o alcance de Pequim sobre um mineral considerado vital para a transição energética.
A Folha de S.Paulo relatou a disputa na semana passada, mostrando que ela envolve uma contenda empresarial e geopolítica pelo controle de minerais críticos para a transição energética, hoje em larga medida dominados pelos chineses.
O Instituto Americano de Ferro e Aço (AISI) afirmou ao governo americano que a concretização da venda de plantas de níquel no Brasil daria aos chineses “influência direta” sobre grande parte das reservas internacionais e potencializaria “vulnerabilidades na cadeia de suprimentos para esse mineral crítico”.
A Corex Holding, uma mineradora holandesa controlada pelo bilionário turco Robert Yüksel Yıldırım, também protestou por ter sido preterida pela Anglo-American. “Não sou contra a empresa chinesa, mas contra essa decisão. Nunca vi um vendedor recusar um preço maior. Eu ofereci US$ 900 milhões e não aceitaram o meu dinheiro”, disse Yıldırım à Folha de S.Paulo.