SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve alta nesta quarta-feira (27), com investidores de olho na repercussão da decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de demitir uma diretora do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA).

Os analistas também aguardam novas declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e a divulgação de dados econômicos.

Às 10h21, a moeda norte-americana subia 0,27%, cotada a R$ 5,4480. Na véspera, o dólar fechou em alta de 0,36%, cotado a R$ 5,4338, com o real pressionado após dados do IPCA-15 virem acima do esperado.

Já o Ibovespa recua 0,22%, a 137.462 pontos, neste início de sessão.

Segundo analistas, a demissão de Lisa Cook, do Fed, gera incertezas sobre a autonomia da autoridade monetária americana. Ela é uma três diretoras do Fed com mandato que ultrapassa o período de governo de Trump, e foi uma das nove diretoras que votou pela manutenção da taxa de juros entre 4,25% e 4,5% na reunião realizada no fim de julho, decisão que irritou Trump.

A diretora do Fed afirmou que a sua demissão não tem amparo legal e que também não vai renunciar ao posto.

Para Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, o caso gerou volatilidade nos mercados nesta terça.

O S&P 400, principal índice acionário dos EUA, encerrou em alta de 0,4%. Juros mais baixos, como o defendido por Trump, beneficiam a renda variável e reduzem o custo de capital.

O Fed vem mantendo a taxa de juros entre 4,25% e 4,5% desde dezembro do ano passado. Entretanto, Jerome Powell, presidente do BC americano, sinalizou um possível corte nos juros em setembro, durante discurso na sexta.

Para os mercados de renda variável e de câmbio, cortes nos juros do Fed são uma boa notícia, já que costumam vir acompanhados de uma injeção de recursos de investidores egressos da renda fixa norte-americana. Quando os juros por lá caem, os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro dos Estados Unidos também caem.

Na cena doméstica, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), considerado uma prévia do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), mexeu com os ativos. O índice registrou deflação (queda) de 0,14% em agosto, a primeira em mais de dois anos.

Os dados foram divulgados nesta terça (26) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo a entidade, o resultado foi puxado pela queda nos preços da conta de luz, alimentos e gasolina.

Havia, entretanto, expectativa do mercado financeiro por uma redução ainda mais intensa. A mediana das projeções de analistas estava em 0,20%, de acordo com a agência Bloomberg.

“Os serviços voltaram a acelerar, com os subjacentes no limite superior das projeções e os itens intensivos em mão de obra devolvendo o alívio visto em julho. Os preços de industriais, excluindo automóveis novos, também vieram piores que o projetado. Assim, o dado interrompe a sequência recente de surpresas positivas para a inflação corrente e pode reduzir o ímpeto das revisões baixistas nas projeções para 2025”, afirma Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

Segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, a deflação não é o suficiente para justificar um corte de juros do Banco Central.

“Ainda é uma inflação com uma composição ruim. Isso reforça as apostas de que o Copom vai manter a Selic em 15% durante o segundo semestre, e favorece a perspectiva de rendimentos de títulos brasileiros”, diz Mattos.

De acordo com analistas, o IPCA-15 elevou os juros futuros na sessão, especialmente os contratos de prazos mais curtos.

No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2027 estava em 13,975%, em alta de 6 pontos-base ante o ajuste de 13,919% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2028 marcava 13,295%, ante o ajuste de 13,239%.

Entre os contratos longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,585%, ante 13,562% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 13,775%, ante 13,755%.

Para Luciana Rabelo, economista do Itaú, o IPCA-15 trouxe “surpresas altistas em energia elétrica residencial, cursos regulares, alimentação fora do domicílio e higiene pessoal”.

O mercado também permanece atento às tentativas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de negociar a tarifa de 50% imposta por Washington sobre produtos brasileiros -que, por ora, não tem dado resultado.

Nesta terça, o presidente Lula voltou a se posicionar contra o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos com críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e à falta de regulamentação das chamadas big techs.

“Ele [Trump] publicou de novo ontem às 21h uma nota dizendo que quem mexer nas big techs dele vai ter consequências”, disse Lula, que faz uso do boné com a mensagem “O Brasil é dos brasileiros”, slogan nacionalista usado pela gestão desde que intensificou o discurso de soberania nacional.

“Disse que as big techs são patrimônios americanos e não quer que ninguém mexa. Isso pode ser verdade para ele, não para nós. Quem quiser entrar nesse 8 milhões de km² tem que prestar conta à nossa Constituição”, declarou o presidente.

Os canais de negociação entre os países continuam fechados e há um temor de que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) intensifique as tensões.

Integrantes do governo Lula (PT) e do STF (Supremo Tribunal Federal) consideram real a possibilidade de Trump aplicar novas sanções econômicas contra o Brasil e outras restrições a autoridades do país com o julgamento de Bolsonaro, que começa em setembro.

Além do julgamento de Bolsonaro, integrantes do governo temem o impacto econômico da recente decisão do ministro Flávio Dino, do STF, de que ordens judiciais e executivas de governos estrangeiros só têm validade no Brasil se confirmadas pela corte.