PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Em um novo estudo, o toxina botulínica aplicada diretamente na articulação temporomandibular (ATM) trouxe resultados positivos em diminuir dores causadas pela disfunção temporomandibular (DTM), um distúrbio na mandíbula que leva a desconfortos nessa região. Embora a conclusão seja positiva, o botox ainda não é recomendado para tratar essa disfunção por causa da falta de evidências científicas do uso em humanos.

A ideia de que o botox pode ser usado para tratar a DTM já é investigada por pesquisadores há anos. No entanto, não há conclusões estabelecidas se a substância pode ser útil para diminuir dores da articulação localizada próxima ao ouvido e responsável pelo movimento da mandíbula. A situação faz com que entidades do ramo da saúde normalmente não recomendem o botox para tratar o distúrbio. Esse é o caso do CFO (Conselho Federal de Odontologia).

Tarley Pessoa de Barros, consultor da entidade e cirurgião-dentista especializado em dor e DTM, reconhece que o botox cumpre um papel importante no campo da odontologia. “Porém, uma vez que ainda não há linearidade e consenso acadêmico sobre o uso da substância para o tratamento da DTM, o CFO esclarece que sua indicação clínica ainda carece respaldo científico”, continua.

Essa ideia também é defendida pelos próprios autores do novo artigo, já que o estudo não envolveu humanos. Publicado no Jornal da Neurociência (em tradução), a pesquisa permitiu fazer um trabalho inicial que futuramente pode ser consolidado em investigações com pessoas, afirmam Yu Shin Kim, professor associado na Faculdade de Odontologia da Universidade do Texas Centro de Saúde e Ciências, e John Shannonhouse, gestor do laboratório de Kim, ambos autores do artigo.

Os camundongos que compuseram a pesquisa tiveram a DTM induzida, e o botox foi aplicado diretamente na articulação temporomandibular. Isso foi uma inovação. “No contexto de estudos com animais, o botox é frequentemente injetado em outras áreas que não a articulação. Isso foi algo que escolhemos fazer de forma diferente”, explicam Kim e Shannonhouse.

Após a aplicação da substância, os pesquisadores avaliaram os animais por meio de testes comportamentais, como ao observar se a face dos bichos representavam dor e se roer macarrão levava a desconforto nos camundongos. Imagens da atividade nervosa na região da articulação também fizeram parte dessa avaliação. A conclusão foi que o botox diminuiu a dor do distúrbio em até duas semanas depois da aplicação.

O motivo ainda não é totalmente conhecido. Existem hipóteses, como o aparente controle que a substância causa nos nervos na região da mandíbula. No entanto, esse ainda é um ponto em aberto. Para Kim e Shannonhouse, essa questão deve ser uma prioridade nesse campo de pesquisa.

“É melhor conhecer melhor os mecanismos de ação das terapias com botox. Conhecer os mecanismos pode nos ajudar a desenvolver melhor as terapias e, mesmo que elas não sejam viáveis como terapia, nos ensinará mais sobre biologia”, afirmam.

Outra questão é se o benefício perdura por mais de duas semanas, ponto que os pesquisadores planejam investigar em pesquisas no futuro.

Para Barros, o consultor do CFO, o estudo é importante por sugerir caminhos sobre o uso do botox em casos de DTM. Mas o cirurgião-dentista especializado nesse distúrbio reitera que, por enquanto, a conclusão ainda é preliminar. Por exemplo, faltam informações sobre como usar o botox sem levar a paralisia de músculos próximos à ATM que são essenciais para a função articular.

Além disso, os resultados não podem ser considerados como válidos para humanos, continua Barros. “Estudos experimentais em animais não podem ser utilizados para construção de diretrizes terapêuticas em humanos”, conclui.