SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Raphael Logam está de volta em um papel bem diferente daquele que o levou à indicação ao Emmy Internacional. Depois de dar vida ao traficante Evandro em “Impuros”, o ator agora encarna Veneno, capoeirista na nova série nacional “Capoeiras”, que estreia no Disney+ no próximo dia 29 de agosto.

A produção mergulha no universo da luta e da cultura popular brasileira, trazendo ação, música e ancestralidade para o centro da narrativa.

Para Logam, a experiência vai além da atuação: é também reencontro com a sua própria história. Ele conta que começou a praticar capoeira aos dois anos e que essa relação moldou até a sua forma de andar. “A capoeira me guia. Literalmente dei meus primeiros passos ali, e só sei andar gingando por causa dela”, diz. Hoje, aos 39 anos, o ator se orgulha de carregar quase quatro décadas de dedicação à arte.

A trama se passa no Rio de Janeiro e começa em 1971, quando Veneno (Logam) e Noivo (Sérgio Malheiros) são jovens capoeiristas e melhores amigos. Ao tentar defender o mestre Vendaval (Dan Ferreira) durante uma batida policial, eles acabam envolvidos em uma tragédia que resulta na morte dele e de um policial. Noivo foge, enquanto Veneno permanece no Rio, sem revelar o que aconteceu.

Dezessete anos depois, Veneno trabalha como faxineiro em uma boate e participa de lutas clandestinas. Ele se torna campeão sem imaginar que se aproxima dos verdadeiros responsáveis pela tragédia. Nesse reencontro com o passado, seu maior oponente será justamente o antigo amigo Noivo, que retorna à cidade.

A história é inspirada no livro “A Balada de Noivo-da-Vida e Veneno-da-Madrugada”, de Nestor Capoeira, com criação de Eliana Alves Cruz e direção geral de Tomás Portella. Logam, além de protagonista, atua como produtor, reforçando a conexão com o projeto.

“A parte física foi mais fácil, porque está em mim desde sempre. O desafio foi interpretar o que sempre quis, aquilo que meu mestre me chamava: “Veneno da Madrugada”, afirma.

O ator destaca o valor da capoeira fora do Brasil. Para ele, há uma diferença gritante entre o olhar estrangeiro e o nacional. “O mundo inteiro ama a capoeira. Só o brasileiro tem essa coisa de não dar valor, de achar que é ‘só nossa’. É uma arte gigantesca, reconhecida lá fora como uma das maiores expressões de cultura e resistência”, comenta.

Logan ainda reforça a parceria com Sérgio Malheiros, que divide o protagonismo com seu personagem, e ressalta a importância da exaltação à brasilidade. “A gente está acostumado a ver séries de ação inspiradas em artes marciais estrangeiras. Agora é diferente, porque estamos colocando a nossa cultura, a nossa cor, o nosso jeito de contar histórias. Isso dá muito orgulho”, afirma.

Mais do que uma trama de ação, “Capoeiras” busca refletir sobre amizade, escolhas e ancestralidade. O ator acredita que a produção seja o início de um movimento maior no audiovisual brasileiro. “A capoeira é tão ampla que dá para contar várias épocas dela. Tomara que essa série inspire outros diretores e roteiristas a fazer mais filmes e séries sobre o tema. É muito rico e merece ser explorado”, defende.

Com seis episódios, “Capoeiras” chega ao Disney+ como uma das principais apostas nacionais do streaming. Para Logam, é também um gesto de resistência e representatividade: “A capoeira me ensinou que você precisa ser muito capoeira para estar em lugares que nunca imaginou. E é isso que sinto agora: a luta me trouxe até aqui.”