SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – juros são termômetro para o que o mercado financeiro pensa sobre Trump vs. Fed, Lula quer todos de boné, e o que big techs sabem sobre seus gostos e outras notícias do mercado nesta quarta-feira (27).

NO TELHADO

A Puma, terceira maior fabricante global de roupas e acessórios esportivos, passa por uma crise. Os lucros da companhia caem ano a ano, o que faz a família bilionária que a comanda querer passá-la adiante.

Quem manda? Os Pinault, bilionários conhecidos pela atuação no mercado de luxo. São donos de 29% das ações da empresa, o que dá à família o controle. Eles enriqueceram a partir da Kering, companhia que reúne marcas de luxo como Gucci, Saint Laurent, Alexander McQueen, entre outras.

A dinastia perdeu muito dinheiro nos últimos quatro anos. Após uma explosão nas vendas de luxo na pandemia, o mercado está se ajustando à nova realidade.

Em 2021, a fortuna de François Pinault, patriarca da família, era estimada em US$ 42,3 bilhões (R$ 229 bilhões). Hoje, o patrimônio está em US$ 21,7 bilhões (R$ 117 bilhões).

↳ Algo parecido aconteceu com os Arnault, donos da concorrente LVMH, mas a situação é menos grave do lado deles.

🐆 Aí entra a Puma… que não está ajudando seus donos em nada. Ela enfrenta uma baixa demanda com a entrada de novos players no setor de vestuário esportivo —coloque Alo, Lululemon, On, Hoka e outros nesse balaio.

A empresa alemã perdeu metade do valor de mercado nos últimos meses, cifra que hoje é estimada em 2,6 bilhões de euros (R$ 16,4 bilhões).

↳ Nike e Adidas também passam por problemas em relação à demanda devido às mudanças no mercado. Saiba mais sobre o assunto aqui e aqui.

💸 Fator tarifaço. Sim, as tarifas de exportação para produtos para os EUA também entram em jogo aqui.

A Puma, assim como as concorrentes Nike e Adidas, fabrica boa parte dos produtos em países asiáticos, como China, Vietnã, Bangladesh e Camboja —todos entre os mais tarifados pelos EUA.

A empresa anunciou em julho que espera uma perda de até 80 milhões de euros (R$ 505 milhões) na receita anual devido às sobretaxas.

E agora? Os Pinault são assessorados por consultores, que levantaram a Anta Sports, da Fila, e a Li Ning como possíveis compradores para a Puma. Ainda, estão no páreo empresas americanas não divulgadas e fundos de investimento do Oriente Médio.

‘YOU’RE FIRED”

Hoje, voltamos a falar da demissão de Lisa Cook, diretora do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) por Donald Trump e os impactos da atitude no mercado financeiro.

⏮️ Recapitulando. O presidente americano exonerou Cook do cargo acusando-a de corrupção por suposta fraude na documentação de hipotecas.

O movimento foi uma direta para Jerome Powell, presidente da autarquia, e todos os outros membros do colegiado que decide a taxa básica de juros do país: se não houver redução nos juros, cabeças vão rolar.

Tremendo na base. Caso a decisão judicial seja favorável às vontades do presidente americano, ele poderia obter maioria no Fomc, colegiado que conduz a política monetária.

A atitude é uma ofensiva sem precedentes a uma instituição cuja reputação foi construída sobre uma independência política presumida. Se Trump consegue manipular um dos pilares do capital, o que ele não consegue dobrar?

“[O republicano] usurpou o poder do Fed de ditar o futuro do dinheiro”, disse Jamie Cox, do Harris Financial Group, à CNBC.

Reflexos. O mercado de títulos públicos é um bom termômetro do humor do mercado. Ontem, a curva dos títulos do Tesouro americano com vencimento a curto prazo caiu, enquanto as caudas longas subiram.

Muito superficialmente, isso significa que os investidores estão comprando títulos de curto prazo e vendendo títulos longos.

O Treasury yield (título do tesouro americano) que vence em dois anos caiu quatro pontos-base, enquanto o que vence em 30 anos subiu dois pontos-base.

No curto prazo, a leitura dos analistas é de que a pressão política e resultados mais favoráveis de indicadores econômicos dos EUA devem fazer a taxa básica de juros, hoje em 4,25% a 4,5%, cair —efeito desejado por Donald Trump.

No longo prazo, no entanto, a visão é de que ficou mais difícil confiar no potencial do Federal Reserve de controlar a inflação sem interferência política, o que tornaria os títulos da instituição menos seguros e atraentes. Há, claro, mais fatores nessa equação —que não cabem em uma newsletter.

ESCRITO NA TESTA

Ontem, Lula cobrou fidelidade dos ministros do centrão, reclamou de eventos de partidos com adversários e deu recados contra tarifaço, Eduardo Bolsonaro e big techs.

Ah, e fez todos usarem um boné com o mote “o Brasil é dos brasileiros”. Alguns pareciam mais empolgados com a ideia do que outros.

Vamos por partes.

📳 Alô, big techs. O chefe do Executivo destacou que Donald Trump publica recados a esmo em sua rede social, a Truth Social.

“Ele disse que as big techs são patrimônios americanos e não quer que ninguém mexa. Isso pode ser verdade para ele, não para nós. Somos um país soberano, temos uma legislação e quem quiser entrar aqui tem que prestar conta à nossa Constituição”, declarou.

A regulamentação da atuação das grandes empresas de tecnologia é um assunto antigo no Congresso, que ganhou novo fôlego com o embate comercial (e ideológico) entre o Brasil e os EUA.

Esperando na janela. Lula voltou a dizer que está aberto a negociar a sobretaxa de 50% a exportações brasileiras aplicada pelo governo americano.

“Este homem aqui está 24 horas por dia à disposição de quem quer que seja, o assunto que for, sobretudo na questão comercial. O que não estamos dispostos é a ser tratados como se fôssemos subalternos”, disse.

Até o momento, não houve diálogo entre os dois países sobre as tarifas e tudo continua na mesma: todo mundo tarifado, exceto os 700 itens na lista de isenções.

↳ A CNI (Confederação Nacional da Indústria) contratou o escritório de um lobista ligado a Trump às vésperas de uma viagem ao país para tentar reverter o tarifaço. Aqui você lê mais sobre.

Sobrou para o BC. Ao fazer uma apresentação sobre medidas econômicas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse “rezar pelo santo que baixa os juros” —uma indireta (ou direta?) para a condução da política monetária por Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central.

A Selic, taxa básica de juros do Brasil, está em 15% ao ano.