SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os cinco jornalistas mortos no bombardeio de Israel a um hospital na Faixa de Gaza não eram integrantes do Hamas ou de outras facções do território palestino, admitiram nesta terça-feira (26) as Forças Armadas israelenses com base em investigações iniciais.

Tel Aviv afirmou, no entanto, que o ataque mirava uma suposta câmera “posicionada pelo Hamas”. “As tropas agiram para remover a ameaça, desmontando a câmera”, disse o Exército sobre o bombardeio que matou pelo menos 20 pessoas.

Israel acusou ainda seis das vítimas de serem membros do Hamas. A investigação continuará para “examinar diversas lacunas”, acrescentou o Exército, como o processo de autorização antes do bombardeio e a munição usada.

O Hamas classificou a explicação israelense para o ataque de “infundada, desprovida de qualquer evidência”. Segundo o grupo, a declaração de Israel “busca apenas escapar da responsabilidade legal e moral por um massacre”.

O ataque de segunda (25) atingiu um dos últimos centros de saúde que continuam parcialmente operacionais na Faixa de Gaza, devastada por 22 meses de bombardeios israelenses. As vítimas incluíram os jornalistas Hussam al-Masri, Mariam Abu Dagga e Mohammed Salama, que colaboravam para Reuters, Associated Press e Al Jazeera, respectivamente, além de Moaz Abu Taha e Ahmad Abu Aziz, também profissionais de comunicação.

De acordo com testemunhas, houve dois ataques —o primeiro, com um drone, matou o cinegrafista Masri, e o segundo ocorreu depois que socorristas, jornalistas e outras pessoas correram para o local. A transmissão de vídeo ao vivo da Reuters do hospital, que era operada por Masri, desligou-se repentinamente no momento do bombardeio, mostraram imagens. A agência de notícias mantinha um ponto de filmagem em um andar abaixo do terraço do centro médico em Khan Yunis.

Nesta terça, a União Europeia afirmou que o ataque foi “completamente inaceitável”. “Civis e jornalistas devem ser protegidos pelo direito internacional”, afirmou um porta-voz do bloco, Anouar El Anouni, em entrevista coletiva. “Os civis em Gaza têm sofrido por tempo demais e em demasia, e é hora de quebrar o ciclo de violência.”

Já o primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, afirmou não acreditar, neste momento, que o bombardeio tinha como alvo jornalistas. “Tanto o Exército israelense quanto o governo israelense prometeram iniciar uma investigação abrangente sobre este incidente”, disse. “E eu gostaria de aguardar os resultados desta investigação antes de fazer um julgamento final.”

O governo dos Estados Unidos, por sua vez, o maior aliado diplomático de Tel Aviv, continua em silêncio sobre o caso. Na véspera, o presidente Donald Trump se limitou a dizer que não sabia detalhes sobre o ataque que matou os jornalistas, mas que não estava feliz com a situação.

O ataque fez o número de jornalistas mortos na guerra subir ainda mais. De acordo com o CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas) e a RSF (Repórteres sem Fronteiras), cerca de 200 jornalistas já perderam a vida no conflito —número que supera o total registrado nos três anos anteriores ao início da guerra, de 2020 a 2022, quando 165 profissionais foram mortos em todo o mundo.

Jornalistas, assim como civis, trabalhadores humanitários, profissionais de saúde e combatentes que foram feridos, abandonaram as armas ou viraram prisioneiros são protegidos pelo Direito Internacional Humanitário, que regula as regras da guerra. Instalações de saúde, como o hospital Nasser, tampouco são alvos legítimos, a não ser que haja provas de que são usados com fins militares.

O caso aumentou a pressão sobre o governo de Binyamin Netanyahu devido à atuação das forças israelenses em Gaza. Nesta terça, cerca de 350 mil pessoas participaram de manifestação que pediu a concretização de um acordo para a libertação dos reféns ainda mantidos no território palestino, de acordo com os organizadores.