PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Os preços da manga para o consumidor brasileiro tiveram deflação (queda) de 20,99% em agosto, segundo dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15).

A redução mensal de quase 21% é a maior desde setembro de 2007, quando a baixa havia sido de 25,04%. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou os dados nesta terça-feira (26).

Ao longo da série histórica, a manga já mostrou deflação em meses de agosto. Parte dos alimentos costuma apresentar movimento semelhante devido à ampliação da oferta no início do segundo semestre, a partir de melhores condições de produção.

No caso da manga, há um fator adicional neste ano. A fruta é uma das mercadorias que não escaparam do tarifaço do governo Donald Trump, que entrou em vigor em agosto.

“Com isso, parte da produção destinada à exportação foi redirecionada para o mercado interno, o que contribuiu para a queda nos preços”, diz o economista Fábio Romão, da consultoria 4intelligence.

“Sazonalmente, a manga aparece em queda no IPCA-15 de agosto. Contudo, a mediana nesta leitura entre 2018 e 2023 foi de -1,26%, muito diferente da queda de -20,99%”, acrescenta.

A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, também diz que a guerra comercial pode ter gerado impactos no índice divulgado pelo IBGE.

Nesse sentido, ela destaca as reduções registradas por carnes (-0,94%) e frutas (-1,32%) em agosto. As carnes também não escaparam das tarifas americanas.

Outros produtos afetados pela medida são os pescados, cujos preços recuaram 0,14% no IPCA-15. A queda, porém, foi bem menos intensa do que a observada no índice de julho (-2,03%).

“Então, se teve algum efeito [nos pescados], ele já aconteceu e deve estar retornando”, diz Moreno.

De acordo com Romão, a deflação das carnes no IPCA-15 tem a ver com a expectativa gerada pelo anúncio do tarifaço, feito em julho, mas esse alívio pode ficar para trás já em setembro, porque o mercado já teria se ajustado às condições de oferta e demanda.

A baixa das carnes (-0,94%) foi a segunda consecutiva e a maior desde abril de 2024 (-1,43%).

O café, mais um produto impactado pelas tarifas, também recuou pelo segundo mês consecutivo em agosto. A baixa foi de 1,47% no IPCA-15. Trata-se da maior queda desde setembro de 2023 (-1,59%).

Por ser divulgado antes, o IPCA- 15 sinaliza uma tendência para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial de inflação do país. Uma das diferenças entre os dois é o período de coleta das informações pelo IBGE.

A apuração dos preços do IPCA-15 ocorre entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência. No caso do índice de agosto, a coleta foi realizada de 16 de julho a 14 de agosto.

Já a apuração do IPCA se concentra no mês de referência. Por isso, o resultado de agosto ainda não é conhecido. Será divulgado em 10 de setembro.

MANGA CAI MAIS EM BH

A variação dos preços da manga é calculada pelo IBGE em oito capitais e regiões metropolitanas. Em agosto, a fruta foi um dos produtos responsáveis pela queda nos preços da alimentação no domicílio (-1,02%).

A maior deflação da manga foi registrada em Belo Horizonte (-31,61%). A menor baixa ocorreu em Porto Alegre (-9,77%).

Com a indefinição gerada pelo tarifaço de Trump, o setor de frutas chegou a indicar risco de que mangas estragassem no pé, porque não haveria mercado para elas em outro país, e nem mesmo no Brasil, já abastecido, como noticiou a coluna de Mônica Bergamo em julho.