SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Candidato a presidente do Corinthians em 2007, Osmar Stabile teve 14 votos. Dezoito anos depois, chegou ao cargo que mirava em uma sequência imprevisível de acontecimentos.
O empresário do setor metalúrgico, hoje um homem de 71 anos, venceu a eleição indireta realizada no Parque São Jorge na noite de segunda-feira (25). Teve 199 votos, contra 50 de Antônio Roque Citadini e 14 de André Castro.
Da noite em que teve 4% dos votos válidos no Conselho Deliberativo àquela em que recebeu 76%, muita coisa ocorreu. Em 2007, o pleito marcou a chegada à presidência de Andrés Sanchez, cujo grupo político, intitulado Renovação e Transparência, permaneceria no comando do clube até o fim de 2023.
Foi uma dinastia que começou com um rebaixamento no Campeonato Brasileiro e teve grandes conquistas antes de um desgaste profundo, agravado por maus resultados em campo e denúncias de corrupção. Na eleição de 2023 -já com a participação dos sócios, não mais restrita a conselheiros-, o grupo foi facilmente derrubado.
Enquanto reinava a turma de Andrés, Stabile se manteve como um membro relativamente discreto da oposição. Foi candidato a presidente em 2010 e a vice-presidente em 2015 e 2018, na chapa de Citadini -seu adversário na última segunda. E compôs, também como vice, em 2023, a chapa que finalmente derrotou o Renovação e Transparência, encabeçada por Augusto Melo.
Osmar, porém, jamais efetivamente participou da gestão de Augusto. Era um vice decorativo ou, na sua própria palavra, “escanteado”. Ele viu uma oportunidade se apresentar quando se erodiu o capital político de Melo, em meio às denúncias de irregularidades no pagamento de comissões do contrato de patrocínio com a casa de apostas VaideBet.
O presidente virou réu na Justiça e foi afastado pelo Conselho. Os sócios referendaram o impeachment, o que deixou Stabile novamente diante de uma eleição indireta para a presidência do Corinthians. Mas em uma posição muito diferente.
Em 2007, quando Alberto Dualib renunciou em meio a um processo de impeachment, o Conselho se dividiu entre apoiadores de Andrés (175 votos) e de Paulo Garcia (158) para a conclusão do mandato interrompido. Sobraram 14 para Stabile, patinho feio naquela ocasião.
Em 2025, quando Augusto Melo caiu, havia uma lacuna. Para preenchê-la, ganhou corpo a corrente que defendia a continuidade de Stabile -presidente interino desde o afastamento de Melo pelo Conselho, no fim de maio- como forma de dar alguma estabilidade a um clube turbulento.
Mostrou-se inefetivo o esforço de Augusto para agarrar-se ao poder -tentou, literalmente, sentar-se na cadeira presidencial após a votação. E o Renovação e Transparente já não tinha a mesma tração, nem mesmo no Conselho.
É impossível, porém, angariar 199 votos -compareceram à eleição 264 dos 299 conselheiros- sem apoio de gente que fez parte das administrações do RT. “Acho que só eu não participei”, sorriu Stabile.
A situação gerou um constrangimento logo na primeira entrevista do empresário como presidente eleito, até dezembro de 2026, quando terminaria o mandato de Augusto. O presidente da Gaviões da Fiel, Alexandre Domênico Pereira, tomou a palavra e demonstrou estranheza com uma resposta na qual o dirigente se mostrava aberto a receber pessoas de gestões anteriores.
“Você tem nosso apoio, sim, mas, a partir do momento em que existirem pessoas do Renovação e Transparência na parte administrativa, os protestos não vão cessar. Para falar em recomeço hoje, presidente, esse grupo político não pode mais administrar absolutamente nada aqui no Corinthians”, disse Alê, como é conhecido o dirigente da maior organizada alvinegra.
“Figurinha carimbada não vai ter na administração. Pode ficar tranquilo, porque não vai ter”, respondeu Stabile, antes de começar a gaguejar para explicar que chapas que já apoiaram o Renovação hoje o apoiam. “Há pessoas que foram vez ou outra lá no passado… Não dá para dizer para você… Bom, não quero ser repetitivo, mas figurinhas carimbadas não participarão.”
Com ou sem figurinhas carimbadas, Osmar tem uma tarefa hercúlea, uma dívida superior a R$ 2,5 bilhões para administrar. Jogadores como o atacante holandês Memphis Depay têm valores altos em atraso. Por inadimplência, o clube está sob um “transfer ban”, veto da Fifa (Federação Internacional de Futebol) a contratações.
“Nós estamos pegando do maior para o menor problema. Já identificamos muitos problemas! São várias prioridades, mas, quando você faz gestão, pega a dificuldade maior primeiro. A dificuldade maior, hoje, é o financeiro. Estamos organizando”, afirmou.
Um dos caminhos cogitados é adiantar receitas com a LFU (Liga Forte União), entidade da qual o clube é associado e negocia direitos de transmissão. O presidente também vê a possibilidade de rescindir o contrato dos “naming rights” do estádio de Itaquera, atualmente chamado de Neo Química Arena, e buscar um acordo mais lucrativo.
De qualquer maneira, observou Stabile, “o grau de dificuldade é enorme”.
Era o que ele buscava desde 2007.