SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério da Saúde expandiu neste mês, para mais 10 estados e o Distrito Federal, a oferta de um novo exame de detecção do HPV (papilomavírus humano), que, aos poucos, vai substituir o papanicolau na triagem do câncer do colo do útero, o terceiro tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil. O teste molecular RT-PCR (uma nova tecnologia de análise por DNA) identifica o vírus e possíveis lesões precursoras da doença, mesmo em mulheres assintomáticas.

Inicialmente disponível pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em Pernambuco no mês de maio, as testagens também passam a acontecer em regiões do Distrito Federal e 14 municípios de São Paulo, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, Rondônia, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás.

A meta é chegar a todos os estados até o final de 2025 e a todos os municípios do país até 31 de dezembro de 2026, afirma o secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Mozart Sales.

O exame detecta 14 genótipos de HPV de alto risco, incluindo os tipos 16 e 18 —mais associados ao desenvolvimento do câncer. A tecnologia permite diferenciar a carga viral para indicar a presença de lesões causadas pelo vírus, que podem evoluir para tumores, inclusive em mulheres assintomáticas.

Hoje, o rastreamento do câncer do colo do útero é feito principalmente pelo papanicolau, exame que consiste na coleta de células do colo do útero e deve ser realizado, no mínimo, a cada três anos. Por ser mais sensível e reduzir falhas de detecção, o novo método permitirá ampliar o intervalo entre os exames para até cinco anos, o que aumentará a cobertura do rastreamento e reduzirá custos.

O teste foi desenvolvido pelo IBMP (Instituto de Biologia Molecular do Paraná), uma instituição sem fins lucrativos vinculada à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). A tecnologia utiliza a mesma plataforma molecular PCR em tempo real que foi empregada em larga escala durante a pandemia de Covid-19.

Sales diz que o Brasil ainda não havia incorporado o teste molecular RT-PCR para HPV, embora a OMS (Organização Mundial da Saúde) já o recomendasse, devido ao custo elevado e ao número limitado de máquinas de biologia molecular nos laboratórios brasileiros. Após a pandemia de Covid-19, o aumento de equipamentos permitiu a incorporação.

“Com essa tecnologia, poderemos diminuir significativamente os números terríveis de 6 mil mulheres que ainda perdem a vida todos os anos por conta do câncer de colo do útero, uma doença totalmente evitável.”

Fabricio Marchini, diretor de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do IBMP, destaca que o novo teste não serve apenas para identificar a presença do vírus, mas também para indicar lesões que podem evoluir para câncer.

“Quando o produto foi registrado na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], ele era para detecção do vírus. Depois, passou por validação clínica internacional, que permitiu determinar limites de carga viral associados à presença de lesões. Hoje, conseguimos identificar 100% das lesões causadas pelo HPV”, explica Marchini.

Para Marchini, a tecnologia representa um avanço importante na prevenção do câncer de colo do útero. “Essa mudança vai diminuir significativamente a perda de diagnósticos de lesões precursoras e, consequentemente, reduzir mortes evitáveis. É um passo fundamental para consolidar uma estratégia de rastreamento mais eficaz no SUS”, diz.

O teste de DNA é automatizado e elimina riscos de falsos negativos e positivos entre os cerca de 200 genótipos do HPV existentes. O papanicolau, por sua vez, identifica apenas células já adoecidas e depende de análise humana. Em caso de dúvida, o mesmo material coletado para o RT-PCR pode ser utilizado para análise citológica, dispensando uma nova coleta.

“O teste também permitirá a autocoleta pela paciente, o que vai facilitar o acesso de mulheres que têm dificuldade de mobilidade, como pessoas obesas ou cadeirantes, especialmente em regiões do Norte, onde a mortalidade por câncer de colo do útero é a maior entre as mulheres”, acrescenta Mozart Sales.

Um estudo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) mostrou que o teste de DNA permite diagnosticar o HPV cancerígeno até dez anos antes do surgimento da doença. Com isso, o problema é tratado precocemente, com intervenção cirúrgica e sem a necessidade de procedimentos de alto custo, como radioterapia e quimioterapia.

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FLUXO APÓS O RESULTADO DO TESTE:

Mulheres com PCR positivo para HPV dos genótipos 16 ou 18: seguem diretamente para colposcopia, exame que amplia a imagem do colo do útero para identificar possíveis lesões. Se o médico identificar áreas suspeitas, é realizada uma biópsia e, posteriormente, o tratamento.

Mulheres com PCR positivo para outros genótipos de alto risco: a paciente faz citologia líquida (análise das células do colo do útero). Se houver alteração, segue para colposcopia e, se o exame indicar lesão, é realizada a biópsia e, em seguida, o tratamento.

PÚBLICO-ALVO DO NOVO TESTE

O teste de DNA no SUS é direcionado a mulheres de 25 a 49 anos e identifica os principais subtipos do HPV causadores de 70% das lesões pré-cancerosas. O HPV atinge mais da metade das brasileiras (54,4%) e 41,6% dos homens com vida sexual ativa, podendo levar a tumores de colo do útero, ânus, pênis e faringe.

O Ministério da Saúde alerta que a presença do vírus nem sempre é sinônimo de câncer, mas indica risco para o desenvolvimento de neoplasias. Outro ponto importante é a existência de uma vacina contra o HPV, disponível gratuitamente e em dose única na rede pública para jovens de 9 a 14 anos.

A vacinação e o teste molecular fazem parte de um conjunto de políticas públicas para acelerar a meta da OMS de eliminar o câncer de colo do útero até 2030.eccao-do-virus-hpv ***