SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Um grupo internacional de pesquisadores anunciou a descoberta de um vírus que surpreendeu até os especialistas em microbiologia. O vírus, batizado de PelV-1, chamou atenção por apresentar a maior cauda já registrada em organismos do tipo. O estudo em pré-print (ainda não revisado por pares) foi publicado no periódico bioRvix.

O vírus foi detectado enquanto atacava plânctons no Oceano Pacífico. Sua cauda supera em 20 vezes o tamanho médio da de outros vírus. Mede cerca de 2.300 nanômetros (equivalente a 0,002 mm). Para comparação: a maior parte dos vírus semelhantes tem apêndices de apenas 135 nanômetros.

A diferença entre o PelV-1 e outros vírus é gigantesca: em termos proporcionais, é como comparar um ser humano a uma baleia-azul. Essa estrutura incomum pode oferecer ao microrganismo uma vantagem evolutiva. Os plânctons (seu alvo) são organismos relativamente escassos.

“Vírus gigantes desafiaram nossas visões tradicionais de virologia devido ao seu grande tamanho e à presença de centenas de genes metabólicos auxiliares. Mas, apesar da imensa diversidade de vírus gigantes descoberta por meio de sequenciamento, poucos isolados foram descritos, e esses eram principalmente vírus que infectam hospedeiros ameboides e raramente do fitoplâncton. Isso dificulta nossa compreensão da interação hospedeiro-vírus marinho e, portanto, do impacto dos vírus no ecossistema oceânico”, disse Andrian Gajigan, coautor principal e oceanógrafo da Universidade do Havaí, em resumo com os demais autores.

A hipótese dos cientistas é que a cauda ajuda o vírus a localizar e se prender ao hospedeiro. Além do comprimento extraordinário, a ponta do apêndice apresenta ganchos em formato de estrela, que aumentam a fixação nas células.

Como os vírus não conseguem se reproduzir sozinhos, cada recurso que os ajuda a invadir uma célula aumenta suas chances de sobrevivência. Diferentemente das células do nosso corpo, eles não conseguem produzir energia ou criar cópias de si mesmos por conta própria.

O PelV-1 faz parte da chamada família dos “vírus gigantes”. Apesar de infectarem seres microscópicos como amebas e plânctons, esses vírus desafiam a lógica: possuem dimensões e estruturas muito maiores do que a média.

Os pesquisadores acreditam que ainda há inúmeros vírus desconhecidos aguardando para serem descobertos. Isso pode mudar nossa compreensão sobre a diversidade e a evolução dessas entidades biológicas.