BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Durante reunião ministerial nesta terça-feira (26), o presidente Lula (PT) voltou a passar recados contra o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e à falta de regulamentação das chamadas big techs.
Lula e outros ministros usaram na reunião um boné com a mensagem “O Brasil é dos brasileiros”, slogan nacionalista usado pela gestão desde que intensificou o discurso de soberania nacional.
“Ele [Trump] publicou de novo ontem às 21h uma nota ameaçando outra vez que quem mexer com as big techs deles vai sofrer as consequências”, disse Lula, que faz uso do boné com a mensagem “O Brasil é dos brasileiros”, slogan nacionalista usado pela gestão desde que intensificou o discurso de soberania nacional.
“Disse que as big techs são patrimônios americanos e não quer que ninguém mexa. Isso pode ser verdade para ele, não para nós. Somos um país soberano, temos uma legislação e quem quiser entrar nesse 8,5 milhões de km², no nosso espaço aéreo, marítimo, nas nossas florestas, tem que prestar conta à nossa Constituição”, declarou.
O tom de reforço à soberania foi mantido na reunião desta terça, em que Lula voltou a destacar o papel de seus ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e do vice-presidente Geraldo Alckmin (Indústria, Comércio e Serviços) na negociação do tarifaço.
“Quero comunicar à imprensa que este homem aqui está 24h por dia à disposição com quem quer que seja, o assunto que for, sobretudo na questão comercial. O que não estamos dispostos é ser tratados como se fossemos subalternos. Isso não aceitamos de ninguém”, disse.
O presidente também voltou a criticar Eduardo Bolsonaro pelas articulações em prol do tarifaço, direcionando o pedido à ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), responsável pelo diálogo com o Congresso Nacional. Conforme mostrou a Folha de S.Paulo, o presidente já havia, inclusive, manifestado para o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o desejo de que a Câmara cassasse o mandato de Eduardo.
Com o começo do tarifaço, EUA e Brasil têm vivido uma crise na relação comercial, como também na diplomática. Após o anúncio da sobretaxa de 50%, o governo americano também anunciou retaliações como a suspensão de vistos em passaportes de ministros brasileiros, o que também foi citado por Lula na abertura da reunião mencionando especificamente a sanção contra Ricardo Lewandowski (Justiça), anunciada por bolsonaristas.
“Queria dizer ao companheiro Lewandowski a minha solidariedade e do governo a você por conta do gesto irresponsável dos Estados Unidos de cassarem seu visto. Na verdade eu acho que eles estão deixando de receber uma personalidade da sua competência e qualidade, eu acho que é vergonhoso para eles e não para você”, declarou Lula.
A informação de que os vistos do ministro e do ex-presidente do Senado brasileiro Rodrigo Pacheco (PSD-MG) seriam suspensos foi dada pelo empresário bolsonarista Paulo Figueiredo, nos Estados Unidos, mas o Ministério da Justiça e o governo americano não confirmaram até o momento.
Lula também citou a guerra entre Rússia e Ucrânia e disse acreditar que o fim do conflito se aproxima.
“É um momento de desafio para nós. Todo mundo sabe o que tem acontecido a nível internacional, todo mundo tem acompanhado a questão da guerra da Ucrânia e da Rússia e todo mundo sabe que está para chegar ao final”, afirmou.
“Tanto o presidente [Vladimir] Putin quanto o presidente [Volodimir] Zelenski já sabem o limite dessa guerra, Trump já sabe o limite, a Europa já sabe o limite, então acho que estão apenas aguardando o momento de anunciar o fim dessa guerra. Na verdade acho que a preocupação maior deles é que a disputa agora é ver quem vai ficar com a dívida, porque alguém vai ter que ajudar a recuperar a Ucrânia.”
As declarações foram dadas durante abertura da reunião ministerial desta terça, que ocorre sob a expectativa de integrantes de seu governo de um alinhamento do discurso e ações do Palácio do Planalto e orientações sobre as prioridades no Congresso neste ano.
Este é o segundo encontro que reúne todos os ministros da Esplanada, e teve um formato mais curto que a anterior, realizada em janeiro deste ano, que durou cerca de sete horas. Iniciado às 9h, o evento tem a previsão de falas dos ministros Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), Gleisi (Secretaria de Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda).
Segundo um auxiliar do petista, a ideia é que essa seja uma reunião de alinhamento de discursos e ações do governo daqui para frente, e não de apresentação de balanços.
A expectativa é que Lula também cobre a seus ministros por entregas de políticas públicas e inauguração de obras, voltando a dizer que este ano é o “ano da colheita” de seu governo.
Desde a última reunião ministerial, fatos relevantes para o governo ocorreram, como o tarifaço de Donald Trump sobre os produtos brasileiros, a crise com o Congresso após derrubada de decreto sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e o escândalo de descontos ilegais no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Além disso, de lá para cá, o governo já substituiu Cida Gonçalves, do Ministério das Mulheres, Juscelino Filho, das Comunicações, Nísia Trindade, da Saúde, e Carlos Lupi, da Previdência.
De acordo com relatos, visto que nem todos os ministros farão apresentações nesta terça, devem ocorrer novas reuniões (ainda sem datas marcadas) daqui para frente entre o petista e os chefes das pastas, divididos por áreas temáticas, para apresentar resultados e propostas de cada pasta com mais detalhamento.