SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta terça-feira (26), com investidores avaliando dados da inflação brasileira e a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de demitir uma diretora do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA).

Às 12h36, o dólar subia 0,34%, cotado a R$ 5,433. No mesmo horário, a Bolsa tinha baixa de 0,55%, a 137.253 pontos.

Assim como na véspera, o real opera na contramão de outras moedas. O DXY, índice que mede o desempenho da moeda norte-americana frente as mais importantes divisas do mundo, caía 0,27% no começo desta tarde, a 98,155 pontos, indicando a desvalorização internacional do dólar.

Segundo João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, entretanto, o mercado brasileiro está receoso nesta terça com as notícias sobre a inflação e ofensiva de Trump sobre o Fed. “O investidor passa a ser mais cauteloso e investir em ativos como o dólar, o que se reflete na cotação da moeda e da Bolsa”.

Na segunda (25), a moeda americana fechou em queda de 0,21%, a R$ 5,413, e o Ibovespa teve alta marginal de 0,04%, a 138.025 pontos. O índice DXY, por outro lado, subiu 0,75% durante o dia.

Na cena doméstica, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), considerado uma prévia do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), registrou deflação (queda) de 0,14% em agosto, a 1ª em mais de dois anos.

Os dados foram divulgados nesta terça (26) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo a entidade, o resultado foi puxado pela queda nos preços da conta de luz, alimentos e gasolina.

Havia, entretanto, expectativa do mercado financeiro por uma redução ainda mais intensa. A mediana das projeções de analistas estava em 0,20%, de acordo com a agência Bloomberg.

Segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, apesar da deflação, os dados ainda não são suficientes para justificar um corte de juros do Banco Central.

“Ainda é uma inflação com uma composição ruim. Isso reforça as apostas de que o Copom vai manter a Selic em 15% durante o segundo semestre, e favorece a perspectiva de rendimentos de títulos brasileiros”, diz.

O mercado também permanece atento às tentativas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de negociar a tarifa de 50% imposta por Washington sobre produtos brasileiros —que, por ora, não tem dado resultado.

Nesta terça, o presidente Lula voltou a passar recados contra o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos com críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e à falta de regulamentação das chamadas big techs.

“Ele [Trump] publicou de novo ontem às 21h uma nota dizendo que quem mexer nas big techs dele vai ter consequências”, disse Lula, que faz uso do boné com a mensagem “O Brasil é dos brasileiros”, slogan nacionalista usado pela gestão desde que intensificou o discurso de soberania nacional.

“Disse que as big techs são patrimônios americanos e não quer que ninguém mexa. Isso pode ser verdade para ele, não para nós. Quem quiser entrar nesse 8 milhões de km² tem que prestar conta à nossa Constituição”, declarou.

Os canais de negociação entre os países continuam fechados e há um temor de que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) intensifique as tensões.

Integrantes do governo Lula (PT) e do STF (Supremo Tribunal Federal) consideram real a possibilidade de Trump aplicar novas sanções econômicas contra o Brasil e outras restrições a autoridades do país com o julgamento de Bolsonaro, que começa em setembro.

Além do julgamento de Bolsonaro, integrantes do governo temem o impacto econômico da recente decisão do ministro Flávio Dino, do STF, de que ordens judiciais e executivas de governos estrangeiros só têm validade no Brasil se confirmadas pela corte.

O mercado também repercute a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de destituir a diretora do Federal Reserve Lisa Cook na última segunda, em nova ofensiva contra o banco central americano. Entretanto, Cook afirmou que a sua demissão não tem amparo legal e que também não vai renunciar ao posto.

Primeira mulher negra a fazer parte da diretoria do Fed e indicada em 2022 pelo ex-presidente Joe Biden, Cook é acusada de ter falsificado documentos e cometer fraude.

Cook é uma três diretoras do Fed com mandato que ultrapassa o período de governo de Trump. Ela foi uma das nove diretoras que votou pela manutenção da taxa de juros entre 4,25% e 4,5% na reunião realizada no fim de julho, decisão que irritou Trump.

Ainda no cenário internacional, o possível corte de juros na economia americana também está no foco do mercado. O Fed vem mantendo a taxa de juros entre 4,25% e 4,5% desde dezembro do ano passado, entretanto Jerome Powell, presidente do banco central, sinalizou um possível corte nos juros americanos, em discurso na sexta, para setembro.

Na visão de analistas do BB Investimentos, o tema e o possível impulso que ele pode dar aos ativos de risco, incluindo os de mercados emergentes, deve ocupar a atenção do mercado financeiro nesta semana.

“Caso o mercado forme consenso sobre os rumos da política monetária nos EUA conforme as sinalizações mais recentes, entendemos que o Ibovespa tem espaço para testar novamente seu topo histórico, em 141,5 mil pontos”, afirmaram em relatório a clientes na segunda.

Para os mercados de renda variável e de câmbio, cortes nos juros do Fed são uma boa notícia, já que costumam vir acompanhados de uma injeção de recursos de investidores egressos da renda fixa norte-americana. Quando os juros por lá caem, os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro dos Estados Unidos também caem.

Para o Brasil, o corte pode aumentar o diferencial entre os juros brasileiros e americanos, o que favorece o fluxo de dólares para o país, reduzindo o valor da moeda americana ante o real.