SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma das indústrias mais poluentes do mundo, o setor têxtil tem gasto intenso de água e energia e grande parte da sua produção vai parar no lixo.

Depois de os tradicionais brechós virarem febre entre os jovens, outras iniciativas como a venda de roupas por quilo têm atraído consumidores que garimpam pechinchas, fomentando a chamada moda circular.

Lojas do comércio popular de São Paulo vendem por quilo roupas que sobram das fábricas, mas é preciso tempo para garimpar.

No Bazar Hamuche, na rua 25 de Março, as peças são separadas por faixa de preço, os clientes tiram os sapatos e sobem nas pilhas de roupa até encontrar algo que sirva e agrade. Mas garantem que o valor final compensa o esforço.

“Gosto da variedade e aqui tem tudo: roupa para criança, para casa, muita coisa por um preço muito bom”, diz a dona de casa Silvana Amaro, 60, que pagou R$ 42,81 em oito peças do bazar.

O quilo da roupa varia de R$ 15, no caso das peças mais antigas, a R$ 95, para as mais novas. A iniciativa surgiu em 2020 com o intuito de aproveitar o excedente de peças produzidas pela marca brasileira Hamuche, popular nos anos 1980.

“Tínhamos caixas e caixas de roupas do estoque da marca que estava parado. Na época da pandemia, abrimos essas caixas e começamos a vender tudo por quilo”, explica Alexandre Hamuche, dono do bazar.

Ainda no centro de São Paulo, a loja Moda&Kilo, no Brás, também vende roupas por peso, mas exclusivamente para o público infantil.

“Quando a pessoa vê que é por quilo, entra na loja porque gera curiosidade. Não é uma coisa comum de se ver”, afirma Cristiane Matos, dona da marca que tem uma loja em São Paulo (SP) e outra em Toritama (PE).

As peças são adquiridas do excedente de fornecedoras de marcas do segmento infantil e lojas de departamento. Para a especialista em moda sustentável Natália Adachi, o modelo de negócio ajuda a combater o desperdício da indústria têxtil.

“O mercado de moda produz em média cerca de 40% a mais do que sabe que vai vender, um excedente que vira estoque encalhado. A indústria já sabe disso e precisa trazer uma solução”, diz.

Na Moda&Kilo, o cliente paga de R$ 160 a R$ 180 por quilo, no caso da linha mais básica, e de R$ 250 a R$ 350, no caso de marcas da linha premium.

A vendedora Taysa Alves, 26, trabalha no Brás e costuma comprar na loja para a filha de oito meses. “Passo aqui sempre que chega reposição das peças porque tem qualidade, é bom e é barato.”

Ao simular uma compra, ela mostra que é possível levar quatro peças da linha premium de diferentes tamanhos por R$ 99,60.

As duas lojas atendem tanto pessoas que buscam peças para consumo próprio quanto aquelas que compram no atacado para revender em brechós e outros comércios.

Dona de um brechó online voltado para skatistas, a empresária Carina Dobre, 44, encontrou no Bazar Hamuche uma forma de garimpar as peças que customiza para venda.

Acostumada a frequentar brechós, ela diz que comprar roupas por quilo pode compensar financeiramente. “Se você compra três calças cujo quilo é R$ 85, cada uma sai por R$ 54.”

Por outro lado, a especialista em moda sustentável Natália Adachi afirma que os brechós oferecem uma curadoria mais segmentada.

“Para quem compra para revender, é muito interessante essa compra por quilo. Mas, muitas vezes, o cliente final busca uma curadoria e, nesse caso, os brechós podem ser mais vantajosos porque são especializados em alguns nichos.”

Segundo estudo do Boston Consulting Group (BCG) e da Enjoei, o mercado de itens usados no Brasil deve crescer de 15% a 20%, ultrapassando o mercado de fast fashion até 2030.

BAZAR HAMUCHE

– Quando segunda a sexta, das 9h às 16h

– Onde R. 25 de Março, 113 – Centro Histórico de São Paulo

– Preço R$ 15 – R$ 95 o quilo da roupa

MODA&KILO

– Quando segunda a quinta, das 6h30 às 15h30; sexta e sábado, das 6h30 às 14h30

– Onde R. Rodrigues dos Santos, 176 – Brás

– Preço R$ 160 – R$ 350 o quilo da roupa