SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cão que ladra não morde? Donald Trump demite diretora do Federal Reserve e indica que o ditado popular pode ter exceções.

Também aqui: todo mundo quer um pedaço dos minerais críticos brasileiros, EUA tenta comer uma fatia do mercado brasileiro de soja e outros destaques do mercado nesta terça-feira (26).

**FALANDO GROSSO**

Depois de muito criticar a atuação do Fed (Federal Reserve), Donald Trump exonerou Lisa Cook, uma das diretoras da autarquia, sob acusações de corrupção.

A DENÚNCIA

Segundo o que foi publicado por Trump em sua própria rede social, a Truth Social, a causa da demissão é uma suposta fraude na documentação de uma hipoteca.

“O povo americano precisa ter plena confiança na honestidade dos membros encarregados de definir políticas e supervisionar o Federal Reserve”, escreveu.

Primeira mulher negra a fazer parte da diretoria do Fed, indicada em 2022 pelo ex-presidente Joe Biden, Cook disse que não tem “nenhuma intenção de ser intimidada a renunciar”.

PRESSÃO? O QUE É ISSO?

Cook foi uma das diretoras que votou favoravelmente à manutenção dos juros nos EUA entre 4,25% e 4,5% na reunião realizada em julho, apesar da pressão constante de Trump para reduzir a taxa em três pontos percentuais.

A exoneração, na opinião de analistas, passa um recado: quem estiver no caminho do que o presidente quer, pode ver a conta chegar mais cedo do que esperava.

PODE ISSO?

Presidentes tem poder para remover membros do Federal Reserve do cargo apenas por justa causa. As leis do país relacionam o termo com ineficiência, negligência e atos ilícitos no cargo.

O advogado de Lisa Cook afirmou em nota que sua cliente tomará todas as ações cabíveis necessárias para impedir a “tentativa de demissão ilegal”.

E O Nº1?

Jerome Powell, o presidente do Fed, já teve a cabeça ameaçada numerosas vezes por Trump, mas permanece no cargo.

Seja pela pressão do republicano ou pela melhora dos indicadores dos EUA, o chefe da autarquia deu sinais na sexta-feira (22) de que poderia reduzir a taxa de juros na próxima reunião do colegiado que decide a política monetária americana.

**BRASIL NO CENTRO DA BRIGA**

O que você acha que são as terras raras? Parece até alquimia. Na verdade, elas não são nada misteriosas e místicas.

COMEÇANDO DO COMEÇO

As terras raras são um conjunto de 17 minerais que possuem propriedades bastante visadas por indústrias de alta tecnologia. Há ainda os minerais críticos, um grupo maior que engloba também as terras raras.

A China domina o refino desses materiais e, portanto, é o principal fornecedor deles no mundo —refina 77% e produz 80%.

A demanda pelos minerais deve triplicar até 2040, segundo relatório da Deloitte. Eles são necessários para a produção de energia limpa, ímãs usados em carros elétricos, semicondutores, entre outros itens.

E o Brasil… ocupa um papel estratégico nessa história. O país é visto como promissor no futuro da economia de “baixo carbono” —e detém 10% das reservas globais de minerais críticos.

Até Donald Trump foi envolvido na briga pelo material brasileiro. O AISI (Instituto Americano de Ferro e Aço) pediu que o presidente americano intercedesse na venda de plantas de níquel no Brasil para a MMG, um braço da estatal China Minmetals Corporation.

Muita gente está de olho no negócio: uns temem que Pequim ganhe ainda mais controle do fluxo global de minerais críticos, outros vibram com o fato de os chineses venderem os materiais a preços muito competitivos.

MAU NEGÓCIO?

Robert Yüksel Yldirim, bilionário turco do setor de minerais, classificou a operação como uma “virada mundial” no comércio de níquel.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o rei do cromo, como é conhecido internacionalmente, diz que o Brasil está vendendo barato seu subsolo aos chineses sem pensar no futuro.

“Quem controla o níquel, controla muito do futuro”, disse o bilionário que acionou a Comissão Europeia para investigar a transação comercial.

**SOB LIVRE E ESPONTÂNEA PRESSÃO**

Soja pode até parecer uma comida sem graça para você, mas tem gente grande brigando por ela —mais especificamente, Estados Unidos e Brasil disputam para vendê-la à China.

Pequim divulgou um discurso de seu embaixador em Washington, Xie Feng, em que ele defende a retomada da cooperação sino-americana no comércio de soja —o que faria o Brasil perder uma fatia do mercado mais importante do grão no mundo.

É FATO

A China compra cada vez menos o produto dos americanos. O próprio Feng lembrou que as exportações da oleaginosa dos EUA para o país adversário caíram 51% no primeiro semestre em relação ao ano anterior.

Mas… quem está ganhando com isso é o Brasil. Somos o maior fornecedor de soja para o gigante asiático, o maior importador de safras do mundo. Cerca de 70% das importações chinesas do grão vêm daqui.

A expectativa inicial do agronegócio brasileiro era de que a guerra comercial imposta por Donald Trump prejudicasse as vendas norte-americanas de soja, sorgo e produtos suínos e criasse um espaço ainda maior para o Brasil.

Se essa esperança for frustrada, e os EUA tirarem uma fatia de mercado, pode haver impactos relevantes no setor, cuja espinha dorsal é a soja.

CHANTAGEM?

Uma das estratégias de negociação de Trump para ceder nas negociações do tarifaço é fazer com que a outra parte se comprometa a importar produtos americanos.

Sob pressão dos produtores americanos, o presidente dos EUA pediu que a China quadruplicasse as exportações da oleaginosa do país que comanda —o que hoje seria impossível.

Para a China… há pontos positivos e negativos na troca de fornecedor. Por um lado, comprar mais soja dos EUA pode encarecer as exportações. Por outro, é bom para o país reduzir a dependência da safra brasileira.

[+] Sobre tarifaço. O governo brasileiro anunciou uma lista de produtos que poderão ser comprados de forma simplificada pela União, por estados e municípios, de produtores e exportadores brasileiros afetados pela sobretaxa de 50% estabelecida por Donald Trump às exportações brasileiras.

– Açaí, água de coco, castanha-de-caju, castanha-do-pará, manga, mel natural e pescados entram na medida.

– Café e carne ficaram de fora. No julgamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, esses produtos têm demanda em outros mercados.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Tchau, Evergrande! Depois de uma crise que mudou o cenário imobiliário da China, as ações da empreiteira gigante foram retiradas da Bolsa de Hong Kong.

Solucionando conflitos. A Perplexity, startup de inteligência artificial, propôs a remuneração de empresas de mídia pelo uso de artigos no buscador de IA gerido por ela.

A Folha de S.Paulo entrou com uma ação judicial contra a OpenAI por concorrência desleal e violação de direitos autorais.

Mudanças na TV. O BNDES deve mudar seu estatuto e permitir que emissoras de TV tomem crédito no banco para o financiamento do equipamento da TV 3.0.

Americanos compram Pilão. A empresa dos EUA Keurig Dr Pepper (KDP) acertou a compra da holandesa JDE, dona de marcas como Pilão, L’OR, Caboclo, Café do Ponto e Café Pelé.