BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo Lula está se organizando para tentar uma recuperação da derrota na eleição para presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do INSS e deve tentar aprovar um plano de trabalho próprio para a investigação. A avaliação do Palácio do Planalto é que seus aliados têm uma maioria apertada e, se bem mobilizados, podem ditar o rumo do colegiado.

Os articuladores políticos de Lula também aceitaram apoiar o nome do deputado Duarte Jr. (PSB-MA) para a vice-presidência da comissão. Antes, o governo queria que o deputado e ex-ministro Paulo Pimenta (PT-RS) se candidatasse ao posto. Pimenta será o coordenador da bancada governista na CPI.

O nome de Duarte Jr. prevaleceu porque é menos atrelado a Lula e teria condições de obter alguns votos na oposição. Também pesou o fato de ter sido indicado à CPI em uma vaga do União Brasil, partido que está se afastando de Lula. Se eleito vice-presidente, ele não poderia mais ser retirado do colegiado.

A segunda reunião da CPI do INSS será realizada nesta terça-feira (26). Na primeira, semana passada, o governo se descuidou e deixou a oposição eleger o presidente do colegiado. O senador Carlos Viana (Podemos-MG) derrotou o senador Omar Aziz (PSD-AM), aliado do Planalto que tinha o apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

Depois de chegar ao cargo, Viana nomeou o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) como relator -o favorito para o posto era o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), próximo do governo.

A presidência é um cargo estratégico porque define a pauta das reuniões. A relatoria é importante porque quem a ocupa redige o relatório final da CPI, que contém, por exemplo, indicações de eventuais indiciamentos de pessoas, e o plano de trabalho que guia a comissão de inquérito. Os dois documentos, porém, precisam ser aprovados pelo colegiado.

Aliados de Lula esperam um plano de trabalho desfavorável de Gaspar, que é integrante da oposição. Por isso, trabalham em um documento próprio para tentar aprovar no colegiado no lugar do que será apresentado pelo relator.

Governistas questionam, por exemplo, o recorte temporal da CPI. O presidente do colegiado, Carlos Viana, afirmou que quer colher depoimentos de ministros e ex-presidentes do INSS desde o governo Dilma Rousseff (2011-2016).

Aliados do Planalto ouvidos pela reportagem reservadamente afirmam que a investigação deveria ser retroativa até os anos 1990, quando os descontos em aposentadorias por entidades passaram a ser possíveis, ou a partir de 2019, quando o número de descontos aumentou.

Um recorte a partir dos anos 1990 diluiria a CPI e deixaria mais difícil se aprofundar em algum caso, o que poderia diminuir possíveis desgastes a Lula. Se o marco adotado for a partir de 2019, o principal atingido seria o governo de Jair Bolsonaro (PL), principal adversário do atual presidente da República.

Outra preocupação é com a possibilidade de a investigação avançar sobre José Ferreira da Silva, irmão de Lula. Conhecido como Frei Chico, ele é vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados Pensionistas e Idosos), uma das entidades que apareceram no escândalo. Alfredo Gaspar quer convocar Frei Chico a depor.

Aliados de Lula estiveram no Palácio do Planalto no começo da noite desta segunda-feira (25) para se organizar para a CPI. Um dos principais recados aos presentes foi para chegar cedo à reunião de terça-feira.

O motivo é que, graças a um arranjo político na Câmara, suplentes do PL podem votar no lugar de titulares aliados do governo caso esses últimos não estejam presentes. Isso foi decisivo para a derrota de Aziz e a eleição de Viana para o comando do colegiado.

A reunião foi comandada pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Também participou o atual ministro da Previdência, Wolney Queiroz.

Wolney foi ao encontro para explicar aos congressistas aliados do governo o que seu ministério tem feito desde que o esquema de descontos ilegais foi descoberto. É uma forma de municiar deputados e senadores com argumentos para defender a gestão Lula.

A ideia dos aliados do governo é martelar que os descontos cresceram na gestão Bolsonaro e, sob Lula, foram investigados, interrompidos e ressarcidos.

Além dos ministros, compareceram à reunião os senadores Rogério Carvalho (PT-SE), Eliziane Gama (PSD-MA), Chico Rodrigues (PSB-RR), Leila Barros (PDT-DF), Randolfe Rodrigues (PT-AP), Teresa Leitão (PT-PE) e Augusta Brito (PT-CE).

Os deputados presentes foram Paulo Pimenta (PT-RS), Alencar Santana (PT-SP), Duarte Jr. (PSB-MA), Romero Rodrigues (Podemos-PB), Mário Heringer (PDT-MG), Rogério Correia (PT-MG), Orlando Silva (PCdoB-SP), Ricardo Maia (MDB-BA) e Josenildo (PDT-AP).