SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A produção brasileira de “Tom na Fazenda”, peça escrita pelo canadense Michel Marc Bouchard, acaba de cumprir temporada no Festival de Edimburgo, na Escócia, o maior dedicado às artes cênicas no mundo. Há oito anos em cartaz, o espetáculo, dirigido por Rodrigo Portella e estrelado por Armando Babaioff, foi elogiado pela crítica dos principais jornais do Reino Unido.

“Um impressionante estudo sobre a homofobia”, diz a manchete do Guardian. O texto, assinado pelo crítico teatral Mark Fisher, destaca que a montagem trata, sobretudo, da perda da esperança, sendo tão cruel quanto fascinante. Já o crítico Allan Radcliffe, do Times, afirma em seu texto que a montagem brasileira tem grande sensibilidade para misturar humor mordaz, brutalidade e ternura.

“Tom na Fazenda” esteve em cartaz na mostra paralela e ocupou um teatro de mais de mil lugares. “Falam que o Brasil está propondo uma maneira de fazer teatro que é inspiradora. Um teatro menos comercial, não muito visto nessa mostra de Edimburgo, falam que o teatro deve voltar à origem. A própria mostra oficial tem sido questionada pelo comercialismo”, diz o ator, que lidera o projeto desde o início.

Escrito em 2009, o texto de Bouchard se inicia com o luto. Após a morte do namorado, o publicitário Tom, papel de Babaioff, vai até a fazenda onde mora a família para acompanhar o funeral. Lá, descobre que Ágata, a sogra, vivida por Denise Del Vecchio, nunca tinha ouvido falar dele e tampouco sabia ter um filho gay.

Seu outro filho, Francis, encarnado por Iano Salomão, passa a oprimir Tom, que esconde da sogra o passado do relacionamento homoafetivo. Num ambiente de opressão, Tom se envolve numa rede de mentiras, interditando a história de amor. Em dado momento, chega até a apresentar à família uma namorada falsa do filho morto, vivida por Camila Nhary, na tentativa de cumprir as expectativas da sogra.

O fenômeno no exterior se iniciou em 2018 no Festival TransAmériques, o FTA, em Montreal, no Canadá. Em 2022, a produção participou da mostra paralela do Festival de Avignon, na França, um dos mais importantes do mundo. Também passou por países como Suíça, Bélgica e Portugal. Babaioff comemora o recém-conquistado apoio do governo brasileiro e conta já negociar apresentações nos Estados Unidos e na China.

“Os europeus enxergam a peça como um trabalho emblemático do momento da humanidade. Temos sentido que essa peça pode circular pelo mundo inteiro”, afirma o ator. “Quero sacudir o teatro brasileiro, porque precisamos fazer com que nossos projetos sejam apoiados.”