SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um varejo muito pulverizado, com líderes regionais que crescem rápido e redes nacionais que se mostram resilientes a grandes solavancos macroeconômicos, como a ascendente taxa básica de juros (Selic). Essas são algumas constatações do Ranking Top 300 do Varejo Brasileiro, que será lançado na noite desta segunda (25) pelo IRTT (Instituto Retail Think Tank Brasil).

As 300 maiores varejistas do Brasil registraram faturamento de R$ 1,3 trilhão em 2024, alta nominal de 9,8% sobre o ano anterior. Na conta, entram apenas as vendas de produtos próprios, não os de terceiros -o que deixa de fora gigantes como o Mercado Livre, o maior marketplace do país. O índice de 9,8% é maior que o da média do varejo nacional, que avançou 8,2% em 2024, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Os líderes do ranking são Grupo Carrefour Brasil (marcas Carrefour, Atacadão e Sam’s Club), Assaí, Magazine Luiza, RD Saúde (redes Drogasil e Raia) e Grupo Boticário (dona das redes O Boticário e Quem Disse, Berenice?). Eles somaram R$ 325,9 bilhões em vendas de estoque próprio no ano passado. Juntas, essas empresas somam pouco mais de um quarto (26%) da lista do IRTT, instituto dos sócios da consultoria Varese Retail Alberto Serrentino, Eduardo Terra e Helio Biagi, com apoio da Mastercard.

De acordo com os responsáveis pelo estudo, o varejo como um todo avançou em 2024, apesar de certa desaceleração no segundo semestre, motivada pelo aumento da Selic. Este ano, a alta dos juros vem comprometendo em parte as vendas ou a expansão do setor.

O CEO do Carrefour na ocasião, Stephane Maquaire, disse que poderia estar abrindo mais lojas, mas estava limitado pelo pagamento de juros. “Com a alta da Selic, gastamos mais de R$ 2 bilhões ao ano pagando juros. É muito dinheiro. Uma loja Atacadão custa, mais ou menos, R$ 60 milhões, R$ 70 milhões. São tantas lojas que não vamos abrir [cerca de 30 ao ano], por termos que pagar juros mais altos.”

Alguns varejistas regionais registram um crescimento mais acelerado que os líderes, uma vez que entendem mais profundamente o perfil e as necessidades do seu consumidor. A Pague Menos, varejista farmacêutica com presença nacional, mas 70% das lojas concentradas no Nordeste, é um exemplo dessa prática.

O ranking do IRTT também apontou que 68 varejistas do grupo das 300 maiores empresas do setor desenvolveram projetos de inteligência artificial no ano passado, indo ao encontro de uma tendência global, já apresentada durante a NRF 2025, a megafeira do varejo realizada todos os anos em Nova York.

No Brasil, grandes varejistas como o Carrefour têm lançado mão da IA para controlar furtos, uma das dores de cabeça do setor, que consome cerca de R$ 10 bilhões ao ano, conforme pesquisa anual feita pela consultoria KPMG a pedido da Abrappe (Associação Brasileira de Prevenção de Perdas).

Também as grandes varejistas de moda Renner e C&A passaram a usar a IA para lançar coleções sob demanda, produzindo menos e vendendo mais, conquistando assim a redução dos estoques e maior rentabilidade. É a mesma estratégia que a asiática Shein utiliza em âmbito global.

As 300 maiores varejistas somam 80.638 pontos de venda e empregam 1,7 milhão de pessoas. Três quartos do ranking mantêm uma operação de comércio eletrônico e quase um terço (97) vendem pelo WhatsApp. Das 300, 200 vendem mais de R$ 1 bilhão por ano.