SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda (25) que deverá mudar o nome do Departamento de Defesa de seu país para Departamento da Guerra, retomando aquela que foi a nomenclatura do órgão até 1947.

“Por que nós defendemos? Antes era chamado de Departamento da Guerra e soava mais forte. Se vocês quiserem mudar de volta para o que era quando estávamos acostumados a ganhar guerras o tempo todo, está OK para mim”, disse, anunciando depois que a mudança deverá ocorrer em uma semana.

“Eu não quero que seja só de defesa, mas também de ataque”, afirmou a repórteres em mais uma de suas tentativas de mudar o foco do noticiário, desta vez na sensível área da defesa do país mais militarmente poderoso da história.

Trump está sob pressão devido à sua tentativa de promover um cessar-fogo na Guerra da Ucrânia, que o levou a receber tanto Vladimir Putin quanto Volodimir Zelenski e aliados nos EUA, sem avanço perceptível ainda.

Além disso, após militarizar Washington, Trump ensaia decretar intervenção federal em cidades importantes governadas por rivais democratas, como Chicago e Nova York, o que tem levado a críticas acerca de suas reais intenções.

O mais surpreendente da decisão anunciada, caso seja levada a adiante, é que ela ocorre no momento em que Trump busca se vender como o que chamou de “o presidente da paz”.

Ele repete insistentemente ter solucionado seis ou sete conflitos nos seus seis primeiros meses no cargo, uma declaração que combina exagero, fantasia e uma dose de verdade em dois casos —os tratados de paz assinados sob auspícios da Casa Branca entre Azerbaijão e Armênia e entre Ruanda e a República Democrática do Congo.

Como disse na semana passada à Folha de S.Paulo o jornalista David A. Graham, autor de um best-seller sobre o arcabouço ideológico de extrema direita infiltrado no governo Trump, o republicano tem “uma obsessão pelo Nobel da Paz” que talvez remeta ao fato de que seu antecessor e rival Barack Obama tenha ganhado a láurea em 2009, no seu primeiro ano de governo, mesmo sem méritos específicos.

O Departamento de Defesa coordena a maior máquina militar do planeta, com 2,9 milhões de servidores, sendo 1,3 milhão integrantes de forças da ativa. Há na composição geral também civis e os 780 mil integrantes da Guarda Nacional, que vem sendo empregada nas ações de Trump.

Seu orçamento é o maior do mundo também, respondendo sozinho em 2024 por 39,4% de todo o gasto militar do planeta.

O departamento começou como sendo da Guerra, em 1789, na aurora da história norte-americana, adotada o nome que era comum entre países europeus na época. Em 1798, foi criada uma pasta irmã, a da Marinha, separando os serviços navais e terrestre, o que perdurou até a Segunda Guerra Mundial —ali, havia braços aéreos dos dois ramos bélicos.

Em 1947, foi feita uma unificação dos serviços sob um secretário de Defesa, sob o nome de Estabelecimento Militar Nacional, incluindo a recém-criada Força Aérea e outros órgãos. Dois anos depois, foi adotado o nome Departamento de Defesa.

No cargo, Trump tem apreço especial pela ritualística militar. Coalhou o Salão Oval de bandeiras de serviços armados, promoveu o primeiro desfile bélico em Washington desde os anos 1990 para coincidir com seu aniversário neste ano, recebeu Putin no Alasca com um sobrevoo de bombardeiro de ataque nuclear e caças avançados na pista.

Tudo isso contrasta com sua retórica desde o primeiro mandato, de que quer tirar dos EUA o papel de polícia do mundo e remover suas forças do que chamava de “guerras inúteis”. Até aqui, parece que a prática vai no sentido contrário, seja ao atacar o Irã, ameaçar a Venezuela ou promovendo mudanças cosméticas no governo.