SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro da França, François Bayrou, anunciou nesta segunda-feira (25) que se submeterá a um voto de confiança na Assembleia Nacional em 8 de setembro. A manobra ocorre em um momento em que o governo busca aprovar o Orçamento de 2026.
A proposta, criticada à esquerda e à direita, prevê um ajuste fiscal de quase 44 bilhões (cerca de R$ 285 bilhões), que inclui medidas como o congelamento de gastos sociais e a eliminação de dois feriados nacionais: a segunda-feira de Páscoa e o 8 de maio, o Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.
Bayrou afirmou que a votação servirá para validar o Orçamento e que cada medida será debatida posteriormente. Caso perca o voto de confiança, sua frágil coalizão de centro-direita cai.
O líder do partido de ultradireita Reunião Nacional, Jordan Bardella, afirmou que a sigla não votará a favor do governo. “François Bayrou acaba de anunciar o fim de seu governo”, escreveu ele em um post no X.
Rosto do conservadorismo francês e apadrinhado pela líder Marine Le Pen, Bardella disse que o partido jamais apoiará “um governo cujas escolhas causam sofrimento ao povo”. O partido de esquerda La France Insoumise também anunciou que não apoiará a medida.
A votação no Parlamento ocorrerá dois dias antes de protestos já convocados por sindicatos e partidos de esquerda.
As propostas precisam ser aprovadas até o fim do ano pela Assembleia Nacional. A discussão orçamentária levou à queda do gabinete anterior, do premiê Michel Barnier, em dezembro passado, após apenas três meses no cargo.
A situação das contas públicas francesas é preocupante. A previsão de déficit público é de 5,4% do PIB em 2025. A meta é chegar em 2029 ao patamar de 3% que os países da União Europeia teoricamente devem cumprir. A dívida pública está em 114% do PIB.
Entre outras medidas, Bayrou também sugeriu a eliminação de 3.000 empregos públicos, pela não substituição de aposentados; o congelamento de aposentadorias e da tabela do imposto de renda; uma “contribuição dos mais afortunados”, sem chegar a falar em imposto sobre fortunas; e redução de 5 bilhões (cerca de R$ 32 bilhões) nos gastos com saúde, com “maior eficiência” e combate a fraudes.
Em seu anúncio, o premiê afirmou que a França deve “enfrentar” o “perigo imediato” do “superendividamento”. “Sim, é arriscado [submeter-se a um voto de confiança], mas é ainda mais arriscado não fazer nada”, disse ele.
A coalizão de Bayrou não tem maioria, mas já sobreviveu a oito moções de censura.
Desde que o presidente Emmanuel Macron dissolveu a Assembleia, em junho de 2024, a França ficou com um Parlamento rachado em três blocos: esquerda, centro-direita e ultradireita, sem que nenhum disponha de maioria.