SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nesta edição, imagine ser vizinho de Mark Zuckerberg. Prepare-se para ser vigiado, interrogado e ouvir barulho de obras o dia todo. Powell quase indica que talvez os juros americanos caiam, Trump coloca o dedo na Intel e como o agronegócio criou o maior rodeio do Brasil e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (25).

*PESADELO ONEROSO*

A edição de hoje começa com um exercício de imaginação.

Você mora em uma linda e enorme casa em Crescent Park, um bairro da cidade de Palo Alto, lar dos ricaços intelectuais na Califórnia. Sua vida tranquila é, de repente, interrompida pela chegada de um vizinho baderneiro, mas imune a reclamações.

Surpresa! Mark Zuckerberg, um dos homens mais ricos do mundo mora ao lado. O CEO da Meta gastou mais de US$ 110 milhões (R$ 596 milhões) na compra de pelo menos 11 casas na área, o que trouxe obras intermináveis e segurança intensiva com ele.

Banco Imobiliário. O jornal The New York Times ouviu os vizinhos do magnata, que relataram um comportamento inesperado do novo habitante. Zuckerberg ofereceu aos proprietários de casas em duas ruas o dobro ou até o triplo do valor de mercado para comprá-las.

Para quê tudo isso?

Cinco foram somadas e viraram uma propriedade gigante, onde ele vive com a esposa, Priscilla Chan, e as três filhas do casal: August, Max e Aurelia.

No complexo, há casas para hóspedes, uma quadra de pickeball (uma espécie de tênis mais fácil dos ricos), jardins e uma estátua de dois metros da Sra. Zuckerberg.

Outra casa tem sido usada como uma escola privada para 14 crianças, incluindo as filhas do casal —o que viola as regras do bairro, segundo a associação local.

🦇 Batcaverna. No subterrâneo, o CEO da Meta construiu uma estrutura de 650 metros quadrados, uma espécie de QG, especula a vizinhança, que se queixou muito da obra de construção do espaço.

🔭 Observados. Uma das principais reclamações dos moradores de Crescent Park é o sentimento de estarem sendo vigiados. Zuckerberg trouxe consigo um sistema de segurança rebuscado —que os vizinhos acham exagerado e ele acha necessário para seu padrão de vida.

Segundo a comunidade, ele tem uma equipe de segurança que fica dentro de carros espalhados pelo bairro e, vez ou outra, interrogam os moradores nas calçadas.

Um porta-voz do casal disse à reportagem que o casal Chan-Zuckerberg tentou ser bem-quisto pela vizinhança, mas eles precisam de um padrão de proteção maior do que o comum.

As notícias de que os homens mais ricos do mundo estão ocupando espaços maiores do que o aceitável para as comunidades locais estão se multiplicando.

Jeff Bezos, fundador da Amazon, se casou com Lauren Sánchez em Veneza e provocou protestos na província italiana.

Elon Musk está construindo um complexo de empresas no Texas apelidado de “Muskland”.

*CAI-CAI, JUROS*

Na última sexta-feira (22), investidores de todo o mundo se agarravam a terços, orações, preces e mantras para receber algum sinal de que os juros americanos cairiam. Como quem acredita sempre alcança, eles comemoraram.

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (equivalente ao Banco Central nos Estados Unidos), discursou no simpósio Jackson Hole, que reuniu algumas das vozes mais importantes da economia global, e deu um sinal mais ou menos verde para o mercado financeiro.

Como assim? Powell indicou que talvez seja possível reduzir a taxa básica de juros dos EUA, que hoje está em 4,25% a 4,5% ao ano —um patamar considerado alto para o histórico do país.

“Com a política em território restritivo, o cenário básico e o equilíbrio mutável de riscos podem justificar o ajuste de nossa postura política”, foi só o que disse.

A postura um pouco menos dura do que em falas anteriores fez o coração dos investidores disparar. Na sexta, os principais índices da bolsa americana subiram: 1,88% (Nasdaq Composite), 1,52% (S&P 500) e 1,89% (Dow Jones).

↳ Há cinco reuniões, o Fed mantém a taxa de juros no mesmo patamar.

Cenário propício (ou nem tanto). Dados recentes da economia norte-americana apontaram que o desemprego aumentou e a inflação continua acima da meta de 2% do Fed, com a expectativa de que cresça enquanto o custo das tarifas de importação de Trump se incorpora aos preços de varejo.

Diante disso, Powell ainda prega cautela. Ainda que a aceleração do desemprego seja um sinal de esfriamento da economia, ela continua bem quente —o que, na visão do chefe do Fed, exige juros altos.

Por que importa? Os preços e a política monetária dos Estados Unidos afetam o mundo todo —especialmente no clima de tensão comercial vivido neste momento.

Um eventual corte da taxa americana facilitaria a vida do Banco Central brasileiro no controle da inflação, mas dificilmente adiantaria uma redução na taxa de juros básica, a Selic, que está em 15% ao ano, avaliaram economistas à Folha de S.Paulo.

[+] Desde o início do mandato de Donald Trump, o presidente americano ataca o chefe do Fed. Agora, ele pede uma redução de três pontos percentuais na taxa de juros, o que não parece estar nos planos de Powell.

*MÃOS NA MASSA*

Falando em Donald Trump, aí vai mais uma atitude tomada pelo presidente americano para colocar seu mote de campanha em prática: “Make America Great Again”, ou “faça a América boa de novo”. Na visão dele, isso significa fortalecer a indústria americana e enfraquecer a do restante do mundo.

O governo vai assumir uma participação de 10% na Intel, fabricante de chips. O movimento faz parte da iniciativa do republicano para fortalecer a indústria nacional, sobretudo aquela de produtos de alto valor agregado.

Como assim? Na opinião dele e de correligionários, os EUA perderam o seu lugar como líder na cadeia industrial global para a China e outros países asiáticos, que assumiram papéis importantes como exportadores.

Essas nações —e o resto do mundo—estão deixando os americanos para trás, impondo tarifas injustas e fazendo-os pagar mais do que devem, segundo o president dos EUA.

Coloque o Brasil nesse balaio. Trump já usou tarifas como a da exportação de etanol brasileiro para os EUA para classificar o país como “um péssimo parceiro comercial” —ainda que os americanos tenham superávit na relação com o Brasil.

Caso Intel. O governo norte-americano fará um investimento acionário de US$ 8,9 bilhões. A participação será passiva, sem assento no conselho ou outros direitos de governança. A empresa está sob ameaça.

Foi ultrapassada na corrida da tecnologia e da inteligência artificial por chips da Nvidia e da chinesa SMIC, entre outras.

O governo intervém na tentativa de ressuscitar a companhia americana e ter mais competidores no páreo da corrida tecnológica.

[+] CEO na berlinda. O presidente da Intel, Lip-Bu Tan quase teve a cabeça cortada a mando do republicano. Trump pediu a renúncia do CEO, alegando que o executivo estaria “em conflito” devido a seus laços com empresas chinesas —sem provas. Dias depois, ele o elogiou após uma conversa.

*DE BARRETIN A BARRETÃO*

É hora de tirar do armário as botas, o chapéu e o cinto com a maior fivela que encontrar. Começou no último final de semana a tradicional Festa do Peão de Barretos, no interior de São Paulo —para os maiores entusiastas, simplesmente Barretão.

Como um rodeio em uma cidade de 120 mil habitantes virou o mais importante do Brasil, atraindo cerca de 1 milhão de pessoas em 11 dias? Economia tem tudo a ver com isso.

⏰ Túnel do tempo. O agronegócio, muito antes da existência formal desse termo, foi o responsável pelo surgimento da Festa do Peão de Barretos, que neste ano chegou à sua 70ª edição.

A tradição de montarias surgiu porque Barretos era passagem obrigatória das comitivas que levavam o gado entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, além de ter um frigorífico desde 1913, o Anglo.

🐂 Concentrando a baderna. As montarias viraram um momento de confraternização —bebedeira, música e competições. Para controlar o perímetro da bagunça, a prefeitura promoveu no recinto Paulo de Lima Corrêa uma festa.

↳ Esse episódio é considerado o embrião das atuais cerca de 2.000 festas do gênero espalhadas pelo Brasil.

📆 Hoje em dia… Barretos continua sendo um polo pecuário importante do estado, com empresas como JBS e Minerva produzindo carne lá. No entanto, a atividade tem perdido espaço para os canaviais, movimento amplificado no interior paulista.

Em 2007, a pecuária usava 54% do território agricultável da cidade. Hoje, está em somente 10,46% dele.

Enquanto isso, a área ocupada por lavouras de cana-de-açúcar passou de 27% para 80,23% do território.

Pão e circo? A direita brasileira encontrou na Festa do Peão um palanque eficiente. Repetidas vezes, políticos da ala discursam e aparecem nas competições e nos shows.

Neste ano, Tarcisio de Freitas, governador do estado de São Paulo, usou o microfone para defender o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal acusado de participar da trama que tentou um golpe de estado em janeiro de 2023.

*O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER*

🆘 “Help! I need somebody”. O governo anunciou mais detalhes do plano de socorro aos empresários mais afetados pelo tarifaço de Donald Trump. Foi assunto do nosso quiz, que você respondeu no sábado —ou se não respondeu, procure na sua caixa de emails e responda!

🏋️ Tá pesado? Deve ser porque as famílias brasileiras destinam quase 10% da renda só para o pagamento de juros. Entenda melhor aqui.

🧱 Mãos à obra. Você acha que é fácil fazer uma reforma? Para que a reforma tributária esteja pronta em janeiro, há mais de 2.000 técnicos trabalhando.

🔒 Protegendo seu dinheiro. A Folha de S.Paulo avaliou 15 aplicativos de banco sob sete critérios de segurança.