BARRETOS, SP (FOLHAPRESS) – Há exatos 20 anos, ele era um dos personagens centrais da novela “América”, da Globo. Já era muito famoso, por ter derrubado praticamente todos os peões que se arriscaram a montar nele e por ter arremessado um a seis metros de altura numa montaria, mas foi a aparição diária em horário nobre na TV que catapultou a fama do touro Bandido, que morreu em 2009 e está enterrado no Parque do Peão de Barretos.

Seu túmulo, que inclui uma estátua ao lado do Memorial do Peão, na entrada do Parque do Peão, é visitado diariamente pelos frequentadores da Festa do Peão de Barretos (a 423 km de São Paulo), que está em sua 70ª edição neste ano.

Bandido disputou mais de 200 desafios contra peões, o último deles em julho de 2008, no Rodeo Country Bulls, em São José do Rio Preto. Dois meses depois foi oficialmente aposentado e morreu em 4 de janeiro de 2009 vítima de um câncer, deixando 70 filhos, 4 clones e 2.000 doses de sêmen. Seu enterro foi acompanhado por 200 pessoas.

Só há registro de um peão que conseguiu ficar montado em Bandido os oito segundos necessários para que uma montaria seja considerada válida: Carlos de Jesus Boaventura, no rodeio de Jaguariúna, em 2001.

Pesando mais de uma 1,1 tonelada em seu auge, Bandido tinha como diferencial, segundo competidores e tropeiros, a sua índole com os peões: enquanto normalmente os touros pulam para derrubar o peão, Bandido tinha como objetivo machucar quem estivesse sobre ele, e para isso se esparramava pelo chão, se fosse necessário.

Prova disso é o acidente que aconteceu com o campeão do Barretos International Rodeo de 1999, Neyliowan Tomazeli, que dois anos depois desafiou Bandido no Mundial Toyota, em Jaguariúna, e se deu muito mal.

Não contente em ter derrubado o peão, Bandido o arremessou a quase seis metros de altura. Tomazeli caiu de cabeça, desmaiou, correu risco de ficar tetraplégico e passou nove meses utilizando uma cadeira de rodas em sua recuperação.

Dois anos depois, desafiou o touro em Barretos e, mais uma vez, foi derrotado. “Nunca tive um pingo de medo dele, só tem medo quem não tem fé. Sinto vontade de morder o pescoço dele até hoje, mas medo? Não”, disse ele à Folha em 2019.

Bandido gerava tanto fascínio em adeptos dos rodeios e da novela que, em 24 de outubro de 2005, o capítulo que mostrou a decisão do peão Tião Higino (Murilo Benício) de montar o touro Bandido rendeu à novela global seu recorde de audiência no Ibope até então, com 61 pontos.

O folhetim tinha como tema central o romance entre Tião e Sol (Deborah Secco), e muitas das cenas foram gravadas na Festa do Peão de Barretos e em Icém, também no interior paulista, onde Bandido vivia na fazenda Santa Martha, do tropeiro Paulo Emílio.

“Bandido foi um diferencial, um divisor de águas. Foi um touro que chegou a participar como protagonista de uma novela e fez as pessoas acreditarem nos animais, que os animais não são maltratados. Todo mundo torcia para o Bandido, porque ele derrubava os peões. Os rodeios têm duas fases, antes e após o Bandido”, disse o tropeiro.

Morador de Campinas, o empresário Carlos Mendonça foi um dos que visitaram o memorial construído para Bandido, e disse se lembrar com medo de suas proezas. “Ele era muito grande, assustava só de ver. E era traiçoeiro, não deixava de jeito nenhum o peão montar”, disse.

No memorial, um texto da autora Glória Perez destaca que o animal não era mágico só na novela. “Nesse caso, a novela não fez mais do que retratar a vida real. Bandido era rei, nos pastos e nas arenas. Impossível não se impressionar com ele.”

O comerciante mineiro de Alfenas Arthur Oliveira afirmou ao visitar o local que a história do animal deu outra visibilidade aos rodeios, por mostrar sua força e como eles vivem nas fazendas. “Eles comem melhor do que muita gente.”

Paulo Emílio afirmou que na fazenda há atualmente 600 animais, dos quais entre 70 e 80 estão prontos para serem usados nos rodeios. No local, contam com veterinário, recebem alimentação balanceada com proteínas, carboidratos e silagem e fazem atividades como natação. Bandido tinha atenção especial e contava com pedicure para cuidar a cada dois dias de seus cascos.

O deslocamento para os eventos é feito em caminhões com piso emborrachado e eles deixam o local imediatamente após as montarias.

GENÉTICA ESPECÍFICA

O tropeiro investiu em melhoramento genético e a sua adoção, conforme ele, foi primordial para o desenvolvimento dos rodeios. “Sem genética, acho que não haveria mais touro de pulo. A tendência nos animais de fazenda é ficarem mansos, dóceis, e no rodeio queremos uma linhagem mais agitada, mais brava, digamos assim”, disse.

Os animais de sua boiada participarão da disputa do Barretos International Rodeo, principal competição entre peões e touros e que acontecerá entre quinta-feira (28) e domingo (31) em Barretos.