SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Morto neste domingo (24), aos 93 anos, o cartunista Jaguar revolucionou o humor publicado na imprensa brasileira. Um dos fundadores de O Pasquim, jornal de oposição à ditadura militar lançado em 1969, Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe iniciou a carreira no jornal O Semanário, passou pelas revistas Manchete e Senhor, e também colaborou com veículos como o Correio da Manhã e a Folha, onde publicou cartuns de 2017 até o mês passado.
Ao longo de quase 70 anos de atividade, calculou ter produzido cerca de 30 mil cartuns, charges, caricaturas e ilustrações. A seguir, alguns dos personagens mais emblemáticos de sua trajetória.
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Ratinho Sig
Criado em homenagem a Sigmund Freud, o personagem nasceu inspirado no mascote de Hugo Bidet, morador de Ipanema que costumava levar um ratinho a bares e encontros.
Inicialmente desenvolvido para os Chopinics, série publicitária da Skol, Sig se tornou uma espécie de avatar de O Pasquim. O personagem marcou a identidade do jornal e já foi descrito como a materialização gráfica de seu pensamento.
O ratinho intelectualizado talvez seja a criação mais conhecida de Jaguar. Já na primeira edição do semanário, Sig aparece em 19 das 20 páginas, caminhando sobre as patas traseiras e bebendo.
Bóris, o homem-tronco
Outro personagem de O Pasquim, Bóris tinha o corpo cortado ao meio, era cínico e mau-caráter, segundo o próprio Jaguar — ainda assim, conquistava leitores e simpatizantes.
Gastão, o vomitador
Segundo Jaguar, Gastão nasceu em uma entrevista que O Pasquim fez com Carlos Manga, publicada na edição nº 153, de julho de 1972. “Nela, Manga confessou um crime hediondo: foi o inventor do júri de televisão. Ilustrei sua declaração com o Gastão vomitando. Gastão teve vida breve: como não sabia fazer outra coisa além de vomitar, enjoei de desenhá-lo e o despedi”, contou.
O personagem, no entanto, foi ressuscitado em 2015, a convite da Ilustríssima. À época, Jaguar explicou que a volta se devia a uma sucessão de acontecimentos -“da desfaçatez da política corrupta ao rompimento das barragens em Mariana, passando por atentados terroristas, manifestações de ódio e difusão de ideias medievais”, publicou a Folha de S.Paulo à época.
Tânia, a Fossa
A depressiva Tânia representava o avesso da garota de Ipanema. Era interpretada como uma sátira às mulheres melancólicas que frequentavam a praia e teria sido inspirada, supostamente, na atriz Odete Lara.
Doutor Carlinhos Bolkan
Vilão criado a partir de uma mescla entre o cronista Carlinhos Oliveira e a atriz Florinda Bolkan, o personagem era um ladrão trapalhão e misterioso, sempre metido em enrascadas nos becos de Ipanema.
Anta de Tênis
Criação conjunta de Jaguar e Ivan Lessa, também ligada ao projeto dos Chopinics, a Anta de Tênis ficou célebre pela frase: “Eu sou uma anta, tenho dois pares de tênis”.