BARRETOS, SP (FOLHAPRESS) – O agronegócio, muito antes da existência formal desse termo, foi o responsável pelo surgimento da Festa do Peão de Barretos, que neste ano chegou à sua 70ª edição.

Embora a primeira edição da mais tradicional festa do segmento no país tenha sido realizada em agosto de 1956, montarias já tinham sido registradas em Barretos (a 423 km de São Paulo) quase uma década antes.

Os rodeios se originaram na cidade em 1947, pouco após a Segunda Guerra, mas de forma extremamente amadora, num período em que o município era conhecido praticamente somente por causa de sua pecuária.

Naquele ano, provas de montaria em cavalos integraram a programação de uma quermesse, evento típico até os dias de hoje nos municípios. Foi a primeira competição de rodeio da qual se tem notícia no país.

A tradição de montarias surgiu porque Barretos era passagem obrigatória das comitivas que levavam o gado entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, além de ter um frigorífico desde 1913, o Anglo.

Quando as comitivas de peões boiadeiros paravam para descanso, nos chamados pontos de pouso, se alimentavam em Barretos e, antes de dormir, passavam as horas regadas a música em violas e brincadeiras como montar nos animais.

Era a forma de encontrarem diversão depois de transportarem boiadas com até 1.500 cabeças de gado pelo estradão.

“Barretos era o centro de chegada e saída de boiadas. Os peões traziam o boi gordo para o abate, junto com os comissários e o dono da boiada, que ficava na cidade para já comprar o boi magro para os peões levarem para engorda na fazenda. Os peões, quando chegavam aqui, depois de 40, 50 dias no sol, andando a cavalo, recebiam o dinheiro da entrega do gado e iam festejar”, afirmou Mussa Calil Neto, ex-presidente de Os Independentes, associação que organiza a festa, e vice-prefeito de Barretos.

Foi assim que a prefeitura promoveu no recinto Paulo de Lima Corrêa uma festa para concentrar os peões num só local. “Os peões, ao festejar, queriam bagunça, mulherada e cachaça. Com o evento no recinto, se houvesse bagunça ficaria concentrada lá. Foi assim que teve esse primeiro evento com montarias, em 1947”, disse.

Esse episódio é considerado o embrião das atuais cerca de 2.000 festas do gênero espalhadas pelo Brasil e, segundo Calil Neto, foram esses peões os responsáveis por levarem para a cidade a cultura caipira que resultou na festa.

Nove anos depois, sob a lona de um circo dentro do mesmo recinto, foi realizada a primeira edição da Festa do Peão, já sob a chancela de Os Independentes, que surgiu em julho de 1955, numa mesa de bar.

GADO X CANA

Empresas ligadas a frigoríficos ainda existem em Barretos -Minerva e JBS-, mas já há muitas décadas os animais passaram a ser levados para o local em caminhões. No estradão, como antigamente, a boiada perdia peso e não era raro animais fugirem ou morrerem no trajeto.

Já a área ocupada pela pecuária recuou nas últimas décadas em Barretos, de acordo com o secretário da Agricultura da cidade, Marcelo Pereira.

Em 2007, o município tinha cerca de 58 mil cabeças de gado, número que recuou para 56 mil atualmente. A área ocupada pela pecuária, porém, recuou muito mais: dos 54% do território agricultável que usava em 2007, hoje está em 10,46% somente, o que significa que houve um forte avanço do confinamento de gado no município –já que o número de cabeças de gado praticamente se manteve.

“Desse total, 32.830 cabeças de gado estão em regime de confinamento, o que representa 60% do total”, afirmou o secretário.

Enquanto isso, a área ocupada por lavouras de cana-de-açúcar passou de 27% para 80,23% do território.