BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A PGR (Procuradoria-Geral da República) denunciou Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes no período em que o ministro era presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Tagliaferro passou a ser investigado após a Folha revelar em agosto do ano passado que o gabinete de Moraes no Supremo ordenou, por mensagens e de forma não oficial, a produção de relatórios pelo TSE para embasar decisões do próprio ministro contra bolsonaristas no inquérito das fake news em 2022.
No último mês de abril, o ex-assessor tinha sido indiciado pela Polícia Federal. Agora, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, decidiu denunciá-lo. Gonet diz que ele deve responder pelos crimes de violação do sigilo funcional, coação no curso do processo, obstrução de investigação e tentativa de abolição do Estado democrático de Direito.
O caso está sob relatoria do próprio ministro Alexandre de Moraes. A denúncia foi apresentada nesta sexta-feira (22).
Quando virou alvo de investigação, aberta por ordem de Moraes, o ex-assessor teve o sigilo do celular quebrado. Com base em mensagens do telefone dele, a PF afirmou que ele avisou uma interlocutora que tinha conversado com a Folha e vazado seus diálogos do período em que atuou no gabinete do TSE.
A PGR afirma que Tagliaferro “revelou informações confidenciais que obteve em razão do cargo ocupado, com o fim de obstruir investigações e favorecer interesse próprio e alheio”.
O ex-assessor de Moraes deixou o Brasil e mora atualmente na Itália, onde prepara uma denúncia para apresentar ao Parlamento europeu contra o ministro. Para a Procuradoria, a saída do país demonstra o alinhamento dele com a organização criminosa responsável pelos atos antidemocráticos.
“O anúncio público recente (30.07.2025), em Estado estrangeiro, da intenção de revelar novas informações funcionais sigilosas, lançando, inclusive, campanha de arrecadação de recursos para financiar o seu intento criminoso, atende ao propósito da organização criminosa de tentar impedir e restringir o livre exercício do Poder Judiciário”, consta na denúncia.
“Está clara a adesão ao objetivo de incitar novos atos antidemocráticos e provocar disseminação de notícias falsas contra a Suprema Corte”, acrescenta.
A Folha de S.Paulo teve acesso a mais de seis gigabytes de mensagens e arquivos trocados via WhatsApp por auxiliares do ministro -entre os quais estava Tagliaferro.
À época das reportagens, o gabinete de Moraes disse em nota que todos os procedimentos relatados na reportagem eram “oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria-Geral da República”.
A Folha de S.Paulo procurou a defesa de Tagliaferro, mas ainda não teve retorno. No momento do indiciamento, o ex-assessor negou ter cometido qualquer irregularidade. Sua defesa disse que “ele reitera, categoricamente, que não foi responsável pelo suposto vazamento”.