SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) com remuneração bem acima das taxas de mercado compõem a maior parte dos passivos do Banco Master que devem ficar de fora da possível venda de 58,04% da instituição financeira para o BRB (Banco de Brasília).

Do lado dos ativos, foram descartados principalmente aplicações em fundos, operações de crédito e precatórios.

Nesta sexta-feira (22), o BRB divulgou comunicado no qual afirma que foram excluídos do negócio R$ 51,2 bilhões em ativos e o mesmo valor em passivos, após uma auditoria nos balanços do Master, que pertence ao banqueiro Daniel Vorcaro.

No jargão financeiro, a fatia com ativos e passivos de pior qualidade ficou conhecida como “bad bank” (banco ruim). A parte a ser adquirida pelo BRB é chamada de “good bank” (banco bom).

Com isso, o valor a ser adquirido pelo banco estatal do Distrito Federal será de R$ 24 bilhões.

Do lado do passivo, ou seja, dos valores que o banco tem a pagar, a maior parte do dinheiro (R$ 33 bilhões) se refere a CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), distribuídos a investidores por plataformas de investimento, nos quais o banco se comprometeu a entregar um retorno próximo de 120% do CDI.

Parte dessa dívida pode ir parar no colo do FGC (Fundo Garantidor de Créditos). O fundo cobre investimentos até o valor de R$ 250 mil por CPF (pessoa física) ou CNPJ (empresas), caso haja calote da instituição financeira.

Ainda no passivo, também ficam de fora da transação depósitos interfinanceiros entre empresas do conglomerado Master, segundo o comunicado.

Do lado do ativo, ou seja, dos valores que o banco tem a receber, foram retirados:

R$ 19,48 bilhões em Fidcs (fundos de investimento em direitos creditórios e ações); R$ 9,43 bilhões em precatórios; R$ 7,59 bilhões em operações de crédito concentradas ou sem garantias reais; R$ 2,47 bilhões de CRIs (certificados de recebíveis imobiliários) e R$ 12,28 bilhões em outros créditos -incluindo recebíveis de ativos judiciais e posições cujas contrapartes não foram avaliadas. Também ficam de fora R$ 601,9 milhões no patrimônio líquido, concentrados em exposições tributárias, trabalhistas e valores a receber que serão liquidados antes da conclusão da aquisição.

A operação de aquisição de 58,04% do capital do Master já teve anuência do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), mas ainda aguarda a análise do Banco Central.

Na última quarta (20), o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), sancionou o projeto que autoriza o BRB a adquirir 49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais do Master. Vorcaro ficará fora do controle do Master-BRB se a operação for aprovada.

O BRB e o governo do DF defendiam que a negociação ocorresse sem aval do Legislativo, mas o TJ-DFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios) barrou a compra até aprovação da Câmara Legislativa e dos acionistas do banco estatal.

A Folha de S.Paulo mostrou que Vorcaro negocia uma segunda linha de crédito com o FGC, entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões, para dar cobertura a vencimentos de CDBs.

O fundo liberou em maio uma linha de crédito para garantir o pagamento de R$ 4 bilhões de CDBs do Master. Nessa negociação, Vorcaro colocou bens pessoais como garantia, uma demanda dos grandes bancos e uma medida considerada punitiva pelas operações de alto risco feitas pelo dono do banco com recursos captados via CDBs.

O Master tinha como estratégia vender CDBs com alta remuneração, usando a cobertura do FGC como atrativo.

Em julho, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu processo para investigar a cúpula do banco, com foco na elaboração das demonstrações financeiras do ano de 2024 e na convocação de assembleias gerais ordinárias fora do prazo legal.

A comissão não dá detalhes sobre o processo, que é do tipo sancionador, o que significa que já há acusações formuladas contra os investigados. São acusados todos os diretores e integrantes do conselho de administração do banco.