SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Voz das Comunidades, um dos maiores veículos de comunicação das favelas do Rio de Janeiro, completou 20 anos no último dia 15.

Rene Silva, fundador do jornal comunitário, imprimiu aos 11 anos o primeiro exemplar que, a princípio, fazia parte de um projeto da escola pública onde estudava no Complexo do Alemão.

Silva já era um voraz leitor de jornais, mas “nunca via a favela sendo representada”.

Sentia falta de ler boas notícias ou a divulgação de projetos sociais e culturais realizados na comunidade. “Na maioria das vezes, o que eu via no noticiário era negativo: violência, tráfico de drogas, mortes. Aquilo não me representava. Sempre achei que temos aqui um lugar de potência, de juventude, de um monte de coisa bacana”, relata à Folha.

Foi então que, ainda na pré-adolescência, pediu para fazer parte do jornal escolar e três meses depois iniciou o próprio jornal, tendo o apoio da diretora e dos professores que revisavam o material antes da impressão e lhe davam acesso a computador e internet. Os primeiros 200 exemplares foram cópias feitas em uma papelaria do original impresso na escola.

Com o tempo, a tiragem mensal passou para 1.000 graças à parceria de uma gráfica e chegou até os atuais 15 mil exemplares entregues gratuitamente todos os meses para os moradores tanto do Alemão quanto de outras comunidades, como Morro do Vidigal, Complexo da Penha e Cidade de Deus.

“Não limitamos a cobertura ao Complexo do Alemão. Então se sai matéria sobre aquela comunidade naquele mês entregamos lá também.”

A logística para que o jornal chegue de porta em porta, de mão em mão, nos pontos de ônibus e em outros pontos estratégicos fica por conta dos chamados multiplicadores.

“Os moradores ficam muito felizes de se verem nesse espaço, ler histórias de pessoas que estão no seu dia a dia, profissionais do local.”

Aos poucos, o jornal que era feito apenas por Silva foi tomando corpo. Primeiro, chegou o irmão dele, Renato, depois primos e outros adolescentes. “Éramos crianças, mas todo mundo queria participar. Um queria fotografar, outro escrever.”

A Redação, com sede no Alemão, conta hoje com a colaboração de 25 profissionais. O veículo tem também um braço social, a ONG Voz das Comunidades, com um banco de 300 voluntários que ajudam na realização de ações sociais para os moradores em datas como Natal e Dia das Crianças. “Atuamos fortemente durante a pandemia de Covid-19.”

Além do impresso, o Voz tem o portal de notícias no qual é abordado o dia a dia da comunidade. “Falamos sobre operação policial, esgoto aberto, ruas esburacadas, problemas sociais”, diz.

Nas redes sociais o veículo soma mais de 1 milhão de seguidores.

“Com a credibilidade que conquistamos durante esses anos, o Voz se tornou referência para outros veículos que pautam histórias positivas, muitas delas sobre projetos sociais e culturais que acontecem nas comunidades.”

Entre os planos para o futuro estão a expansão do jornal para alcançar cada vez mais favelas e a criação de uma escola de comunicação para que crianças, jovens e adolescentes comecem a pensar em possibilidades de carreiras. “Queremos que as crianças possam brincar de comunicação, de fazer jornal, experimentar fazer algo como um dia eu pude fazer.”