SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nos anos 1980, em plena efervescência cultural do Rio de Janeiro, boates, praias e rodas de samba conviviam com o avanço silencioso de uma doença ainda desconhecida. A Aids chegava ao Brasil carregada de medo, estigma e manchetes carregadas de preconceito.
Enquanto artistas, jovens e militantes tentavam se reinventar diante da incerteza, a ausência de políticas públicas deixava famílias desamparadas. É nesse cenário que se passa “Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente”, série da HBO Max em parceria com a Morena Filmes.
A trama, exibida em cinco episódios a partir de quinta-feira (28), acompanha um grupo de comissários de bordo que, ao perceber a falta de medicamentos no país, decide arriscar a própria vida para trazer clandestinamente o AZT, o primeiro antirretroviral aprovado no exterior.
A operação, feita às escondidas, salvava vidas enquanto o poder público se mantinha inerte. A narrativa é inspirada em casos reais revelado pelo jornalista Leandro Machado em uma reportagem.
O elenco principal reúne Johnny Massaro, Bruna Linzmeyer, Ícaro Silva, Eli Ferreira e Kika Sena. Sob direção de René Sampaio e com consultoria da infectologista Márcia Rachid, a série mergulha nas nuances da amizade, do medo e da resistência numa época em que a doença era analisada sob um viés preconceituoso, a ponto de ser classificada como “peste gay”.
A estética aposta em uma reconstrução de época detalhada: figurinos que remetem à moda oitentista, locações no centro do Rio e uma fotografia que transita entre a vibração das festas frequentadas pelos personagens e a dureza dos hospitais.
Johnny Massaro afirma que viver esse período na pele do personagem foi um processo transformador. Ele diz que algumas cenas exigiram muito emocionalmente, sobretudo as que retratam a perda de pessoas próximas. Para o ator, a série vai além da dor: fala sobre como a vida insiste em continuar, mesmo em meio ao luto. “A gente precisou entender que não estávamos apenas encenando uma história de sofrimento, mas também de afeto e de resistência”, conta.
Bruna Linzmeyer destaca que o mais forte no roteiro foi o equilíbrio entre solidariedade e alegria. Sua personagem, Leia, vive uma gravidez enquanto ajuda a contrabandear o medicamento, e chega a ser investigada pela Polícia Federal.
Para a atriz, essa coragem ilustra a força das mulheres no enfrentamento da epidemia. Ela lembra ainda que, apesar dos avanços científicos, o preconceito permanece o mesmo de décadas atrás. “Hoje temos remédios gratuitos pelo SUS, mas ainda morrem milhares de pessoas por ano porque muitas não chegam ao tratamento, seja por desinformação, seja pelo estigma”, afirma.
Ícaro Silva confessa que pouco sabia sobre a epidemia antes da preparação, e que ouvir Márcia Rachid foi fundamental. Ele cita uma frase da médica como guia para seu trabalho: a diferença entre viver com HIV e viver com Aids está no preconceito. “Isso mudou tudo para mim. Hoje uma pessoa com HIV pode ter uma vida longa e saudável, mas a exclusão social continua sendo a parte mais difícil”, diz.
Para Thiago Pimentel, um dos idealizadores da série e produtor da Morena Filmes, em um país que ainda carrega os resquícios da pandemia de Covid-19, revisitar o impacto da luta contra a Aids em um passado não tão distante se torna uma reflexão urgente. “Entender essa parte da nossa historia é fundamental para enxergar o presente e não repetir os mesmos erros”, afirma.