SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diante do desgaste do bolsonarismo com a divulgação de mensagens da investigação da Polícia Federal e da corrida do centrão e de parte da direita em torno de uma candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), aliados de Jair Bolsonaro (PL) iniciaram uma operação para tentar retomar unidade e conter danos.

A preocupação é controlar os rachas expostos no grupo político diante da proximidade do julgamento de Bolsonaro no caso da trama golpista, marcado para começar no STF (Supremo Tribunal Federal) no próximo dia 2.

O discurso no entorno do ex-presidente reforça a tese de que a divulgação da investigação da PF, às vésperas de uma provável condenação de Bolsonaro, é uma iniciativa política, sem substância jurídica. Para eles, houve vazamento seletivo das mensagens, principalmente as que envolveram Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Silas Malafaia, com a intenção de expor divergências.

A estratégia agora envolve dobrar a aposta nos atos no 7 de Setembro como tentativa de demonstrar força e ampliar a pressão sobre a corte. Um dos obstáculos envolve a própria revelação de movimentações financeiras de Bolsonaro (que recebeu cerca de R$ 44,3 milhões em suas contas bancárias de março de 2023 a junho de 2025, segundo a PF), fator adicional de desgaste.

Quando as mensagens foram vieram a público, revelando troca de ofensas, aliados de Bolsonaro disseram que as conversas eram privadas e questionaram a divulgação do conteúdo.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em entrevista a uma rádio bolsonarista, classificou as discussões como “fofoca”.

“[Alexandre de Moraes] É uma pessoa que não tem limites para expor relação familiar, que não tem nada a ver processo, com única intenção de manipular opinião pública, atacar presidente Bolsonaro e seu grupo”, disse.

Em outra frente, Eduardo gravou vídeo nas redes sociais em que diz a Malafaia: “Tamo junto”. Ele também ligou para o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), um dos principais aliados do pastor, para dizer que estavam em bons termos e que o religioso teria crédito para xingá-lo, uma vez que é uma das pessoas que mais defendem seu pai. Em uma das mensagens a Bolsonaro, Malafaia havia chamado o deputado federal de “babaca”.

Já o governador de São Paulo, alvo sobretudo de Eduardo, disse se tratar de “conversa privada de pai para filho”. “É uma questão que só interessa aos dois. E eu não sei nem porque essas conversas foram divulgadas. Isso realmente não vejo interesse público nisso”, disse, sem responder às provocações do deputado federal.

Aliados passaram os últimos dias minimizando as desavenças. Reservadamente, disseram que é normal haver divergências, reforçando que seguem unidos em torno de Bolsonaro -que estará no banco de réus enfrentando acusações que podem levá-lo a mais de 40 anos de prisão.

A avaliação de bolsonaristas também foi de que as mensagens mostraram Tarcísio e Bolsonaro unidos. A despeito dos ataques de Eduardo e Malafaia nas mensagens, o ex-presidente não endossou as críticas.

O discurso agora tem sido o de manter a militância unida para mobilizações expressivas no 7 de Setembro, como expôs Malafaia logo após ser alvo de operação da PF. Os atos já estavam marcados para cidades por todo o país quando foi marcado o julgamento no STF.

Um dos principais organizadores é justamente Malafaia, que promete manter e reforçar os chamados aos apoiadores.

As últimas manifestações foram menores do que as do ano passado. A avaliação é de que a militância ficou desanimada com tantos atos, mas a última foi melhor do que a expectativa, graças às sanções do governo de Donald Trump -com quem aliados contam para manter retaliação a ministros do STF.