RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O pacote de socorro a empresas prejudicadas pelo tarifaço de 50% implantado contra produtos do Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai priorizar a concessão de crédito incentivado a empresas que perderam mais de 5% do faturamento com interrupção de exportações.

Companhias com perdas menores ou afetadas com tarifas mais baixas também terão acesso a linhas de crédito emergenciais, mas a juros mais elevados. O BNDES anunciou também a oferta de garantias a micro e pequenas empresas que desejarem tomar os empréstimos.

Batizado de Plano Brasil Soberano, o pacote tem uma linha de crédito de até R$ 30 bilhões para ajudar as companhias, além do adiamento de impostos federais, maior ressarcimento de créditos tributários e uma reformulação nas garantias à exportação para facilitar a busca de novos mercados.

O BNDES anunciou nesta sexta-feira (22) R$ 10 bilhões adicionais em duas linhas de crédito para empresas menos afetadas. O pacote do banco tem ainda R$ 22,5 bilhões em garantias, que dependem que o Congresso aprove projeto retirando a ajuda do resultado primário do Tesouro.

As linhas de crédito incentivado terão juros entre 0,66% e 0,82% ao ano, com prazo de cinco anos e carência de um ano. Estão destinadas às empresas que perderam mais de 5% com a interrupção de vendas aos Estados Unidos e usarão os R$ 30 bilhões anunciados pelo governo.

As empresas beneficiadas terão que manter o número de empregados. O cálculo é feito com base na média de empregados em 12 meses anteriores a junho de 2025. Há uma carência de quatro meses no início dos contratos, mas a média deve ser retomada entre o 5º e o 12º mês de financiamento.

Se a regra não for cumprida, o financiamento passa a ser corrigida pela taxa Selic.

As duas novas linhas emergenciais lançadas para empresas com perdas menores ou afetadas por tarifas menores, terão juros de 1,15% ao mês mais spread bancário ou com taxas atreladas ao dólar. Essas linhas usarão R$ 10 bilhões que o BNDES pode captar em LCDs (Letras de Crédito do Desenvolvimento.

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, diz que o modelo de socorro é inspirado na experiência do socorro emergencial a empresas afetadas pelas enchentes históricas que atingiram o Rio Grande do Sul em abril e maio de 2024.

“Temos experiência concreta, houve aprendizado importante”, disse o presidente do BNDES. “Naquela ocasião, foi decisivo delimitar o alcance, a mancha de água, as empresas que estavam afetadas por essa mancha.”

O trabalho agora é identificar as empresas que foram mais afetadas pelo tarifaço e serão elegíveis aos juros incentivados. Mercadante disse esperar receber uma lista na segunda semana de setembro e iniciar as aprovações de crédito no dia 15.

Ele sugeriu a empresas afetadas que já procurem seus bancos de relacionamento para agilizar as aprovações. O banco anunciou ainda duas novas linhas de financiamento a investimentos, para empresas que planejem buscar novos mercados como alternativa às exportações aos Estados Unidos.

As indústrias madeireira, calçadista e de armamentos, que registram queda nas vendas por causa do tarifaço, vem apelando a férias coletivas como primeira medida para conter custos e esperam o apoio do governo para tentar evitar demissões em massa.

Na quarta-feira (20), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD) afirmou que o Brasil vai insistir na negociação comercial com os Estados Unidos contra o tarifaço de 50%.

“Vamos continuar negociando permanentemente”, disse em entrevista à jornalista Miriam Leitão, na GloboNews. “O Brasil está sendo injustiçado. Temos que separar questões de natureza político-partidária e do Judiciário. No Estado de Direito, os poderes são separados”.

Ele reafirmou que não há justificativa para a taxação e disse que o Brasil está entre os únicos países do G20, que reúne as maiores economias do mundo, com quem os EUA têm superávit, ao lado do Reino Unido e da Austrália.