BOGOTÁ, COLÔMBIA (FOLHAPRESS) – Representantes da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica) assinaram, na tarde de sexta-feira (22), a Declaração de Bogotá. Cumprindo a expectativa inicial, o texto traz menção de apoio a um novo mecanismo financeiro amazônico conhecido como TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre, na sigla em inglês), e a uma nova estrutura de cogovernança indígena dentro da OTCA.

A declaração foi assinada pelo presidente Lula (PT), por Gustavo Petro e por Luis Arce, mandatários da Colômbia e da Bolívia, e pela vice-presidente do Equador, María José Pinto.

Um dos principais elementos da declaração é o consenso de apoio ao lançamento conjunto do TFFF. Trata-se de um mecanismo encabeçado pelo Brasil e que será oficialmente lançado durante a COP30, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a ser realizada no fim do ano, em Belém, no Pará.

A ideia do instrumento é ser uma nova fonte de recursos para países amazônicos, diferenciando-se dos mecanismos que dizem respeito somente à redução de desmatamento.

Outro ponto de consenso na declaração foi a criação do Mapi (Mecanismo Amazônico de Povos Indígenas), que dará uma maior participação de movimentos indígenas na OTCA. A primeira presidente do Mapi será Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas do governo brasileiro. Ela assume a presidência do mecanismo junto com a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).

O Mapi especificamente pode ser considerado como uma importante conquista, considerando que havia resistência interna com a ideia de participação indígena.

Houve também o consenso em declarar que os países amazônicos cheguem unidos à COP30, focando o objetivo de evitar que a amazônia chegue ao ponto de não retorno.

A necessária união dos países foi comentada em momentos dos discursos dos presidentes, mas, ao mesmo tempo, a negociação para a declaração não foi tão tranquila nos bastidores.

De quarta para quinta-feira, este último o dia que em que os ministros de relações exteriores assumiriam as tratativas, as discussões avançaram na madrugada.

Além disso, parte do discurso de Petro durante a cúpula pode ser lido como uma pequena cutucada no Brasil e no presidente Lula.

O governo colombiano defende o fim da exploração de combustíveis fósseis na amazônia. Enquanto isso, o Brasil coloca esforços em direção a uma possível nova frente de exploração, na foz do Amazonas.

Petro, ao defender a descarbonização das economias, afirmou que sabe as implicações disso na política latino-americana, “inclusive a progressista”.

“Se é progressista, acata a ciência. Hoje a ciência nos diz, imperativamente, que devemos deter o C [gás carbônico] na atmosfera. Logo, um progressismo na América Latina deve defender que saiamos das economias fósseis, ou seja, as que se sustentam sobre o carbono, o petróleo e o gás.”, disse Petro. “Houve um capitalismo fóssil, houve um socialismo fóssil. A nova época é descarbonizada. Sem C [gás carbônico] na economia.”

A declaração conta ainda com apoio a uma comissão de segurança para combate ao crime. O tema ganhou destaque nos discursos de Petro e de Lula. Na quinta-feira (21), a cidade de Cáli, na Colômbia, foi palco do pior atentado da última década.

Segundo o presidente colombiano, os atentados, que provocaram a morte de 18 pessoas e deixaram dezenas feridas, são ações do narcotráfico.