SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No estado de São Paulo, o número de mortes por gripe aumentou 115,9% até 21 de agosto de 2025 (15h49) se comparado ao mesmo período do ano passado. Foram 576 óbitos em 2024 contra 1.244 em 2025.
No mesmo intervalo, os casos subiram 87,9% 4.605 em 2024 para 8.656 neste ano. Os dados são da plataforma de Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo.
Em 2025, a maior parte das infecções está concentrada na população com 60 anos ou mais (4.513); em segundo lugar (1.301), vem a faixa de 40 a 59 anos e em terceiro (907), os pequenos de 1 a 4 anos.
Situação semelhante também ocorre na capital paulista, onde a alta de mortes, no mesmo período, foi de 200,9% (107 em 2024 para 322 em 2025) e a de casos, 105,06%. (1.126 para 2.309)
No país só são notificados os casos graves de gripe, ou seja, aqueles que necessitam de internação. Dos 8.656, 32,01% (2.771) permaneceram em leitos de UTI.
Para Jessica Fernandes Ramos, membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e médica do Núcleo do Infectologia do Hospital Sírio-Libanês, o clima mais favorável para a propagação dos vírus respiratórios, a circulação de vários deles ao mesmo tempo e a baixa cobertura vacinal explicam os números mais altos em 2025.
“Acho que é uma soma de fatores: o clima, a sazonalidade, o fato de termos muitos vírus em circulação o que gera uma imunodeficiência que faz com que o vírus influenza, causador da gripe, possa deitar e rolar”, afirma Jessica.
“Tem a questão da composição da vacina. A gente tem que ter dado a sorte do pessoal da OMS [Organização Mundial da Saúde] que seleciona os vírus que o Butantan coloca na vacina, ter incluído aqueles que circularam no inverno, no Hemisfério Norte. Até o momento, predominou o influenza A, que temos na vacina. Mas será que foi o AH3N2? Será que foi o AH1N1 pandêmico, que tem na vacina? Ou outro tipo de influenza A que a vacina não deu match? E isso é uma das maiores causas de falha vacinal, de baixa eficácia, porque já não é uma vacina 100%”, diz a infectologista.
Até 21 de agosto, no estado de São Paulo, a cobertura vacinal do grupo prioritário (pessoas com mais de 60 anos, crianças de seis meses a menores de seis anos e gestantes) foi de 48,17%. No município, a imunização no mesmo público chegou a 53,48%. A meta é alcançar 90%. Vale lembrar que no estado a vacina é ofertada para toda a população a partir dos seis meses.
De acordo com David Uip, diretor nacional de infectologia da Rede DOr, além da baixa cobertura vacinal, é importante ressaltar que com a pandemia de Covid as doenças estão mais precoces, mais graves e algumas diferentes.
“Por exemplo, na dengue tradicional a complicação era a dengue grave. Agora, estamos vendo meningite, meningoencefalite, pericardite. E nós não víamos ou não diagnosticávamos. Quando cai o nível de vacinação, as consequências são as complicações. Os indivíduos mais idosos, com comorbidades e influenza têm mais complicações, principalmente pneumonia”, explica David Uip.
O infectologista alerta para a importância da vacinação contra o vírus influenza e outros meios de proteção como o uso de máscaras se estiver com sintomas gripais e evitar aglomerações.
“O que eu vejo são as pessoas espirrando, tossindo e lidando com os outros sem nenhuma preocupação. Elas esqueceram a pandemia. Esse inverno está mais forte e duradouro. As pessoas se aglomeram e ficam em ambientes mais fechados no frio”, afirma o especialista.
COMO DIFERENCIAR A GRIPE DOS EFEITOS DO TEMPO SECO?
Segundo a infectologista Jessica Fernandes Ramos, a febre é o grande diferencial.
“Calafrios, dor de cabeça, dor no corpo como se tivesse feito muita ginástica e a musculatura fica dolorida são outros sinais de alerta. Para ter certeza, pelo menos para coronavírus e influenza, tem os testes rápidos, disponíveis em farmácias, drogarias e em alguns serviços de pronto atendimento, de pronto-socorro, como as UPAs”, comenta Jessica.
“Na ausência de febre e desses sintomas mais importantes tanto pode ser uma alergia quanto um quadro viral, mas não o influenza. Serão vírus de resfriado como rinovírus, parainfluenza, metapneumovírus. O influenza costuma ser mais agressivo”, finaliza a médica.