SÃO JOSÉ DOS PINHAIS, PR (FOLHAPRESS) – Com 70% dos fornecedores de origem brasileira, a Electrolux, multinacional de eletrodomésticos, não vê o tarifaço de Donald Trump como ameaça à empresa na América Latina. O efeito deverá ser o aumento da concorrência.

“As empresas que geralmente exportam para os Estados Unidos vão em busca de outros mercados, como o do Brasil e o restante da América Latina. A concorrência será maior”, afirma Leandro Jasiocha, CEO da empresa para a América Latina.

A Electrolux inaugurou nesta sexta-feira (22) sua nova fábrica no Brasil. Nos primeiros meses, o complexo industrial em São José dos Pinhais (15 km de Curitiba) vai produzir ventiladores e liquidificadores.

A projeção da empresa é que em dois anos, quando atingir a capacidade máxima, serão fabricados cinco milhões de produtos por ano, o que representaria 25% do faturamento de eletroportáteis da empresa no Brasil. Atualmente, a companhia vende cerca de 15 milhões de produtos por ano no país.

O investimento na obra foi de R$ 700 milhões e é o maior da companhia na América Latina. Ela já tinha outra fábrica no Paraná. Serão 2.000 empregos gerados, 500 deles de forma direta.

A Electrolux brasileira não exporta para os Estados Unidos, nação que impôs 50% de tarifa de importação ao Brasil. O conglomerado já tem uma marca própria no país, a Frigidaire.

“O impacto direto é pequeno. Nós exportamos para Porto Rico, por exemplo, que segue as normas dos Estados Unidos. Mas é um mercado pequeno. O que vamos fabricar aqui [na nova planta] é voltado para o público brasileiro”, completa o CEO.

Além de incentivos fiscais recebidos por meio do programa Paraná Competitivo do governo do estado (parcelamento ou diferimento do ICMS em energia e gás, crédito presumido em operações de ecommerce e de importação e utilizar ICMS para pagar bens de ativo imobilizado), a prefeitura cedeu o terreno e a terraplanagem.

A área construída é de 50 mil metros quadrados, mas o espaço total é de 138 mil metros quadrados. Embora comece a produção imediatamente, as obras vão continuar.

Expandir a produção faz sentido logístico. Toda a importação de componentes usados pela Electrolux no Brasil chega pelo porto de Paranaguá, a 83 km de São José dos Pinhais.

A América Latina representa, segundo Jasiocha, 25% do faturamento da Electrolux. A estimativa é que este número tenha sido cerca de US$ 3,5 bilhões no ano passado. Desta porcentagem, 60% vêm do Brasil (cerca de US$ 2,1 bilhões).

Na cerimônia, o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), lembrou que outras empresas de eletrodomésticas estão se expandindo no estado. A LG Electronics tem obras para uma fábrica no município de Fazenda do Rio Grande.

“Nós queremos concorrência”, respondeu o CEO.

O cartão de visitas da Electrolux na inauguração foi ser a primeira planta do grupo 100% sustentável. Ela pretende, globalmente, zerar as emissões de carbono até 2033. Segundo a companhia, 100% da energia consumida na nova fábrica em São José dos Pinhais será proveniente de fontes renováveis. Os veículos utilizados na operação, mesmo empilhadeiras, serão elétricos.

Uma nova tecnologia, desenvolvida pelo time de engenheiros da empresa de origem sueca, vai reduzir a emissão de carbono da solda. A economia da água potável, diz a Electrolux, será de 83% e a redução de consumo será de 2,6 milhões de litros por ano.

A promessa é de não enviar, desde o primeiro dia de operação, nada para aterros sanitários. A multinacional afirma que serão plantadas 3.000 mudas de árvores no terreno.

Idealizada em 2023, a fábrica foi inaugurada agora para coincidir com o aniversário de 100 anos da empresa no Brasil. Apesar do calor de 30 graus nesta sexta em São José dos Pinhais, os armazéns estão climatizados para uma temperatura entre 23 e 24 graus e sem o uso de ar-condicionado. Isso é feito graças ao sistema de venezianas, que controlam o ambiente, afirma a companhia.