BOGOTÁ, COLÔMBIA (FOLHAPRESS) – A cúpula da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), em Bogotá, Colômbia, da qual participa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), transcorrerá, a partir da manhã desta sexta-feira (22), sob a sombra dos piores ataques por grupos armados que o país viu na última década.

A cúpula tem como objetivo a discussão de questões socioambientais, econômicas e políticas de países amazônicos. Espera-se que a declaração final trate de um novo mecanismo financeiro amazônico conhecido como TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre, na sigla em inglês).

A tensão nas forças de segurança decorre dos atentados com caminhão-bomba, drones e fuzis ocorridos em Cali e em Amalfi, no departamento de Antioquia, nesta quinta-feira (21), com ao menos 18 mortos e dezenas de feridos.

Segundo a Folha de S.Paulo apurou, há uma maior atenção com a segurança presidencial, que se une a protocolos já tradicionais para eventos do tipo, como barreiras de revista, detectores de metais, forças militares e franco-atirados das forças segurança em telhados vizinhos.

O encontro, que conta com a presença de algumas centenas de pessoas, ocorre em local aberto, na Plaza de Armas, ao lado da Casa de Nariño, residência oficial do presidente colombiano, Gustavo Petro. Além de Petro e Lula, participam da cúpula o presidente da Bolívia, Luis Arce, a vice-presidente do Equador, María José Pinto, e outras autoridades.

Os atentados foram lembrados pela mestre de cerimônias no início da cúpula, e foi pedido um minuto de silêncio pelas vítimas —a irmã de James Mosquera Torres, membro do Congresso colombiano, foi uma das atingidas pelos ataques e citada na abertura do evento.

Em nota, o governo Lula repudiou os ataques. “O governo brasileiro manifesta sua solidariedade às famílias das vítimas e ao povo e governo colombianos e reitera seu veemente repúdio a qualquer forma de violência”, afirmou, em breve comunicado.

As ruas que dão acesso à Casa de Nariño, como de costume, estão fechadas. Soma-se a isso, na manhã desta sexta, a Plaza Bolívar fechada por causa de filmagens. A praça é um histórico e movimentado ponto da cidade turístico da cidade.

Compõem a OTCA Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.

Por volta das 15h locais (17h de Brasília) desta quinta, um caminhão carregado de material explosivos explodiu em uma rua movimentada de Cali, a terceira cidade mais populosa do país, a 460 km a oeste de Bogotá.

O ataque, contra uma escola de aviação militar, deixou 6 mortos e mais de 60 feridos, segundo a Defensoria do Povo. A prefeitura ordenou a militarização da cidade, e dois suspeitos foram detidos.

O ministro da Defesa, Pedro Sánchez, responsabilizou a maior dissidência das Farc, conhecida como Estado-Maior Central (EMC), sob o comando de Iván Mordisco. O EMC não havia reivindicado a autoria até a manhã desta sexta (22).

Mais cedo, no noroeste do país, o EMBF (Estado Maior de Blocos e Frente), outra facção rebelde e uma dissidência do EMC, atacou um esquadrão da polícia que trabalhava em uma missão de erradicação de drogas.

Armados com fuzis e um drone, os autores do ataque derrubaram um helicóptero e houve confrontos, em uma ofensiva que matou 12 policiais. O ataque ocorreu em Amalfi, ao norte de Medellín, a cerca de 550 km de Bogotá. O EMBF é liderado por um guerrilheiro conhecido como Calarcá.

A violência se intensifica no país a menos de um ano das eleições presidenciais, que ocorrerão em maio de 2026. No dia 11 de agosto, morreu o candidato favorito da direita, Miguel Uribe, após ser atingido com um tiro na cabeça em um atentado em junho.

Três dias depois do ataque ao senador, outro mega-ataque em Cali e municípios vizinhos, com 24 episódios diferentes de violência envolvendo uso de fuzis e explosivos, incluindo carros, motos e ônibus-bomba, matou 7 pessoas e deixou outras 28 feridas.

As duas dissidências envolvidas nos ataques desta quinta, o EMC e o EMBF, que também se enfrentam, rejeitaram o acordo de paz assinado em 2016 com a maior parte das Farc, grupo do qual originaram as duas facções.