SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma semana após receber Vladimir Putin com pompa no Alasca e voltar a alinhar seu discurso ao do Kremlin sobre a Guerra da Ucrânia, o presidente Donald Trump voltou a fazer um ultimato ao colega russo.

Deu duas semanas para decidir se Putin e Volodimir Zelenski conseguem marcar uma reunião de cúpula para discutir um cessar-fogo no conflito, iniciado pelo russo em 2022. Se não, ele poderá ou impor “sanções maciças” ou “fazer nada, pois a briga é de vocês”, nas suas palavras.

Não é a primeira vez que Trump afeta insatisfação com o processo de paz que gostaria de ver iniciado de fato, em sua busca declarada pelo Prêmio Nobel da Paz. Em meados de julho, ele havia dado um prazo de 50 dias para Putin aceitar uma trégua.

Depois, apertou a data-limite para o dia 8 de agosto. Enviou seu negociador Steve Witkoff a Moscou e, de forma atabalhoada, se deu por satisfeito e convidou Putin para sua primeira visita aos EUA desde 2007.

A reviravolta deixou Kiev e seus aliados europeus em pânico, pois após o encontro Trump abandonou a exigência de um cessar-fogo imediato, como o Kremlin defendia, e voltou a falar na partilha da Ucrânia.

Ele agitou o tabuleiro novamente no fim de semana seguinte, convidando Zelenski e seis líderes europeus para a Casa Branca, numa reunião que durou toda a tarde da segunda passada (18). Ali, os rivais da Rússia conseguiram fazer avançar o tema das garantias contra uma nova invasão em caso de acordo paz.

No Alasca, Putin havia sugerido que aceitaria congelar a linha de frente nas duas regiões do sul ucraniano, Kherson e Zaporíjia, em troca da entrega de Donetsk (leste). Em todas elas, Moscou tem cerca de 75% de controle territorial.

A quarta região anexada e que faz parte da lista de desejos oficial de Putin, Lugansk (leste), já está totalmente controlada por Moscou. Pela proposta, ele ganharia 6.600 km2 remanescentes no leste em troca de desocupar 440 km2 que tomou das regiões de Sumi e Kharkiv, no norte.

Kiev não topa,e a questão territorial perdeu espaço para o debate sobre garantias de segurança para os ucranianos em caso de paz. A Europa quer uma força multinacional para impedir novos ataques russos, o que Moscou descarta. Trump sugeriu apoio aéreo, mas sem dizer o que seria isso na prática.

Zelenski reuniu-se em Kiev nesta sexta com Mark Rutte, o secretário-geral da Otan, que afirmou não haver nenhuma decisão sobre o emprego de forças. “Ainda é cedo”, disse ele, ressaltando que o mais importante agora é a Rússia saber que EUA e europeus estarão envolvidos na proteção à Ucrânia.

O encontro tripartite anunciado após reunião com o ucraniano e europeus na Casa Branca por Trump, com Putin e Zelenski, já virou a tentativa de uma cúpula só entre os rivais. A cada dia, sua chance de ocorrer parece diminuir, já que ambos os lados querem definições sobre o conceito de garantia de segurança.

O russo disse ao americano que toparia algum mecanismo de proteção mútua por uma coalizão de países, mas seu chanceler depois esclareceu que a Rússia teria de ser integrante do grupo. Com efeito, antes da fala de Trump, nesta sexta Lavrov voltou a dizer que não há nenhuma reunião agendada por ora com o ucraniano.

Já o presidente havia dito mais cedo a repórteres que “vamos ver se Putin e Zelenski vão trabalhar juntos”. “Sabe como é, é como óleo e vinagre. Eles não se dão muito bem, por motivos óbvios”, afirmou.

No seu pronunciamento, foi mais incisivo contra o russo, cujo desempenho na cúpula foi amplamente considerado superior. “Eu não estou feliz”, disse a repórteres, acerca dos seus esforços recentes. “Tem uma quantidade tremenda de ódio ali. Eu acho que em duas semanas nós vamos saber para que lado vamos”, disse.

A ideia de “não fazer nada” é má notícia para Kiev, pois Trump já disse várias vezes que não pretende se envolver mais no conflito. Em vez de doações diretas, nas quais os EUA são líderes do ranking quando o assunto é armamento, passou a vender material militar para países europeus repassar à Ucrânia.

Já as sanções haviam sido ameaçadas antes, assim como o aumento de tarifas de importação para países que compram petróleo, derivados e gás da Rússia. Para provar que falava a sério, elevou essas taxas para a aliada Índia, compradora de 38% do petróleo cru russo desde o fim de 2022.

O grande alvo pode ser a China, maior importadora, com 47% da fatia no período. Mas o Brasil, já afetado pela guerra comercial de Trump, seria afetado pois importa 60% do óleo diesel que consome do país de Putin.

Mesmo aliados da Otan, como Turquia, Hungria e Eslováquia seriam afetados. Se a punição atingir mesmo quem compra gás, até a França entrar na lista.