BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A ONU (Organização das Nações Unidas) pediu ao Brasil que subsidiasse parte da hospedagem das delegações internacionais para a COP30, a conferência de clima que acontecerá em Belém em novembro.

O país negou usar dinheiro público para isso e apoiou o pleito para que o órgão multilateral amplie o auxílio dado a nações mais pobres como forma de resolver a crise das acomodações na capital paraense.

As discussões vem acontecendo nos últimos dias e, nesta sexta-feira (22), houve uma reunião da UNFCCC (o braço climático da ONU) para debater o tema.

Após o encontro, a secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, afirmou que as Nações Unidas, em carta, pediram explicitamente para que o Brasil pagasse parte das hospedagens, sobretudo de países menos desenvolvidos e insulares.

“O governo brasileiro já está arcando com custos significativos para a realização da COP, por isso não há como subsidiar delegações de países, inclusive de países que são mais ricos que o Brasil. Do ponto de vista do governo brasileiro, não cabe aos brasileiros fazerem subsídios a outros países”, afirmou ela.

Em resposta, o Brasil apoiou o pleito feito por países africanos e insulares para que a ONU equipare o auxílio dado a eles em Belém ao praticado em outras cidades brasileiras.

Isso porque as Nações Unidas custeiam uma diária para diplomatas de uma série de países durante eventos oficiais. Esse valor é de cerca de US$ 250 (R$ 1.355) em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, mas de menos de US$ 150 (cerca de R$ 813) em Belém.

“Reafirmamos nosso apoio para que a ONU use como o auxílio que eles dão para os países mais pobres o mesmo valor que eles dão em outras cidades brasileiras. Se [a COP] fosse mudar a cidade-sede, eles iam ter que aumentar”, disse ela.

Segundo o secretário-extraordinário da COP30, Valter Correia, a ONU vem afirmando que mudar esse procedimento exige uma série de trâmites burocráticos, o que não seria viável no momento.

“Pedimos que fizessem uma reconsideração”, afirmou ele, para “centrar esforços juntamente com o país-sede, para achar soluções, sair um pouco da zona de conforto, dar uma contribuição maior”.

“Acho que teremos um desafio conjunto de conseguir outras fontes que possam, eventualmente, ajudar esses países”, completou a secretária.

Segundo ele, até aqui 47 países (de quase 200) informaram já ter reservas para suas delegações participarem da COP30.

Dentre eles, 39 o fizeram pela plataforma oficial de hospedagem, mas as nações menos desenvolvidas e insulares são o menor número deste bloco. Os outros —Egito, Espanha, Portugal, República do Congo, Singapura, Arábia Saudita, Japão e Noruega— garantiram seus lugares por outros meios.

Presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, afirmou que o Brasil criou uma força-tarefa para resolver individualmente a hospedagem de cada um dos países que precisarem, priorizando aqueles com menos condições financeiras.

A crise dos hotéis de Belém extrapolou os debates sobre logística da cidade e contaminou inclusive as negociações diplomáticas sobre clima.

Como revelou a Folha de S.Paulo, dezenas de países enviaram, ao governo Lula (PT) e à UNFCCC, uma carta pressionando para que a COP fosse ao menos parcialmente retirada da capital paraense.

A organização do evento, porém, nega que essa seja uma opção em debate, e aposta em conseguir acomodar todas as delegações usando navios cruzeiros, alugueis de Aribnb, investimento em hotéis e uma plataforma para oferecer mais opções de hospedagem.

Até aqui, porém, a rede hoteleira de Belém vem se recusando a prestar informações ao governo federal sobre os preços praticados para o período.

A reunião desta sexta-feira ganhou importância após um encontro emergencial, revelado pela agência Reuters, no final de julho, que foi realizado justamente para tratar das reclamações dos países sobre a hospedagem.

Na ocasião, a UNFCCC sistematizou as queixas em 48 questionamentos, que foram então enviados para a a presidência da COP, e foi combinado que um encontro seguinte dos negociadores seria para que o Brasil apresentasse suas respostas.

Esta segunda reuunião acabou adiada por duas vezes, em razão de problemas de agenda, mas já no último dia 18 o Brasil enviou ao órgão da ONU sua carta com as respostas.

No documento, revelado pela Bloomberg e confirmado pela Folha de S.Paulo, o Brasil reiterou que não há a possibilidade de mudar a cúpula de lugar.