RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Ter acesso à rede geral não basta para garantir o abastecimento diário de água para parte dos brasileiros. É o que indicam dados divulgados nesta sexta-feira (22) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em 2024, 181,5 milhões de pessoas viviam em domicílios cuja principal forma de abastecimento era a rede geral.

Do contingente total, 8,5 milhões de habitantes só tinham distribuição de água de 1 a 3 dias por semana (4,7%), enquanto 9,6 milhões contavam com o serviço de 4 a 6 dias (5,3%). Esses dois grupos somavam 18,1 milhões de pessoas sem abastecimento diário.

Ter água todos os dias por meio da rede era uma realidade para 159,9 milhões de moradores em 2024. O contingente correspondia a 88,1% do total atendido principalmente por essa estrutura. O percentual avançou ante o início da série, em 2016 (86,7%), mas encolheu se comparado a 2023 (88,6%).

Os dados integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). Os números reforçam a existência de desigualdades regionais na área de saneamento básico que já apareceram em outras divulgações do IBGE.

Considerando a população que vivia em lares atendidos principalmente pela rede geral, o Distrito Federal tinha o maior percentual de moradores com água diariamente (98,1%), seguido pelo Mato Grosso do Sul (97,9%).

Por outro lado, essa proporção era inferior a 50% em dois estados: Pernambuco (44,2%) e Acre (48,5%).

O cenário é semelhante quando se considera o percentual de domicílios (e não de moradores) conectados à rede com água todos os dias. De novo, Distrito Federal (98,2%) e Mato Grosso do Sul (98%) mostraram os maiores patamares, enquanto Pernambuco (44,2%) e Acre (48,5%) tiveram os menores.

William Kratochwill, analista da pesquisa do IBGE, destacou que historicamente as regiões Nordeste e Norte enfrentam mais gargalos estruturais.

Segundo o técnico, os percentuais mais baixos também podem refletir problemas de manutenção e dificuldades de estoque de água para distribuição.

De acordo com o IBGE, 86,3% do total de domicílios brasileiros tinham a rede geral como principal forma de abastecimento em 2024. A proporção era de 85,8% em 2016, no início da série.

As diferenças entre o meio urbano e o rural continuam. Nas cidades, 93,4% dos lares recebiam água principalmente a partir da rede geral no ano passado. É quase o triplo da proporção no campo (31,7%).

Os lares rurais possuíam maiores percentuais de uso de poços profundos e artesianos (30,8%), poços rasos, freáticos ou cacimbas (12,9%), fontes ou nascentes (13,3%) e outros (11,2%).

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4,7 MILHÕES DE LARES AINDA QUEIMAM LIXO NO PAÍS

O IBGE também divulgou dados sobre o destino do lixo. No país, 6,1% dos domicílios ainda queimavam lixo em 2024, o equivalente a 4,7 milhões de lares. O percentual era de 8,1% em 2016.

A queima de lixo segue bastante associada ao meio rural. Do total de 4,7 milhões de domicílios que utilizavam a prática, 4,5 milhões ficavam no campo.

Esses 4,5 milhões correspondiam a 50,5% dos lares do meio rural. A proporção pouco encolheu ao longo da série. Estava em 53,8% em 2016.

No meio urbano, somente 0,4% dos lares queimavam lixo em 2024.

“É um dado ainda preocupante, que acarreta aumento de poluição, e mesmo insalubridade para a zona rural, pois o lixo precisa ficar acumulado de alguma forma até que seja queimado”, afirmou Kratochwill.

O IBGE disse que 93,1% dos domicílios brasileiros contavam com coleta de resíduos de forma direta ou em caçambas de serviços de limpeza. O percentual era de 92,4% em 2023 e de 90,4% em 2016.

Há, novamente, fortes diferenças entre o meio urbano e o rural. Em 2024, 99,4% dos lares das cidades contavam com algum tipo de coleta de lixo, enquanto apenas 44,8% dos endereços no campo tinham esse serviço.

MAIS DE 30% DOS LARES DO NORTE NÃO TÊM REDE DE ESGOTO OU FOSSA SÉPTICA

Outro quesito investigado na Pnad é o esgotamento sanitário. No Brasil, a proporção de domicílios com acesso à rede geral de esgoto ou com fossa séptica ligada à rede foi de 70,4% em 2024, após marcar 69,7% em 2023 e 68,1% em 2019 —período inicial dessa análise.

Nas grandes regiões, o percentual variou de 31,2% no Norte a 90,2% no Sudeste no ano passado.

No Norte, 36,4% dos lares ainda recorrem ao que o IBGE contabiliza como outros tipos de esgotamento sanitário.

Essa categoria inclui opções mais precárias, como fossas rudimentares, valas e até rios, lagos, córregos ou mar. O percentual de outros tipos no Norte é mais que o dobro da média brasileira (14,4%).

“Isso pode ser explicado pela geografia das cidades e dos vilarejos da região. São muito afastados dos grandes centros urbanos, o que dificulta a construção de uma rede de esgotamento sanitário”, avaliou William Kratochwill, do IBGE.