BOGOTÁ, COLÔMBIA (FOLHAPRESS) – Como fazer frente a potencialmente o maior risco que a humanidade já enfrentou, a crise climática? A aposta de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, é o BEG (Balanço Ético Global). O nome carrega um teor um tanto filosófico, mas a ideia por trás do projeto tem algo talvez mais palpável: o constrangimento.
“Eu acredito muito na força do constrangimento ético”, afirmou Marina, durante entrevista coletiva na noite desta quinta-feira (21), em Bogotá, na Colômbia, onde ocorre a cúpula da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica). “Todos somos constrangidos porque sabemos o que está acontecendo no mundo.”
“As propostas que a sociedade traz, a forma como elas já lidam com as questões com menos recursos, menos estrutura fazem tanto. Isso é uma forma de nos constranger eticamente”, disse a ministra, após passar a tarde em discussões na segunda reunião do BEG, relativa à América do Sul, Central e Caribe. O encontro ocorreu no Centro Felicidad Chapinero uma estrutura bogotana aberta ao público, que visa educação, esporte e cultura, em uma ideia que lembra o Sesc brasileiro.
Assim, segundo a ministra, a ideia do BEG é tentar fazer com que as vozes da sociedade que, além da consciência sobre os problemas, têm experiência prática cheguem aos tomadores de decisão para “sair do verbo para a ação”.
“Quem está devedor tem nome, endereço, telefone: governos e empresas”, afirmou Marina.
Marina usou um paralelo do que ela mesma e o Brasil viveram durante o primeiro mandato do governo Lula no qual ela também era ministra do Meio Ambiente, em um momento em que o desmatamento estava descontrolado, em níveis altíssimos.
A ministra disse que, quando ajudou a criar o PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal), ela advogava pela criação de um sistema de detecção de desmatamento em tempo real com dados abertos ao público o que veio a se tornar o sistema Deter.
“Naquela oportunidade as pessoas disseram: isso é submeter o país a uma situação de completa exposição”, conta Marina. “E eu disse: eu quero ser constrangida eticamente. E foi muito bom o constrangimento ético. O Brasil nos primeiros períodos de implementação do PPCDAm conseguiu uma redução de 83% do desmatamento.”
Durante a fala à imprensa, a ministra e o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, também foram questionados sobre a posição do Brasil em relação à exploração de combustíveis fósseis na bacia Foz do Amazonas.
Marina afirmou, pegando emprestada uma fala de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, que hoje não há capacidade instalada para prescindir do uso da energia fóssil, mas que não se deve se esconder atrás disso. Segundo a ministra, o Brasil tem facilidades energéticas foram citados biocombustíveis e hidrogênio verde que podem servir como atração de investimentos para países que não tenham as mesmas facilidades de produção de energia limpa.
A ministra também citou as promessas do Brasil ligadas ao desmatamento, elemento central das emissões de gases-estufa no país.
“Confesso que me tira o sono”, disse Marina sobre o compromisso brasileiro de zerar o desmatamento até 2030.
DEVEDORES
O Balanço Ético Global tem parentesco com o Balanço Global chamado de GST (Global Stocktake), que busca avaliar o progresso e a implementação das metas dos países para reduzir as emissões de gases-estufa e, consequentemente, atingir os objetivos do Acordo de Paris. O texto do GST foi acordado durante a COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Aproximando-se, a COP30, em Belém do Pará, pode ver um avanço nas discussões relacionadas à implementação do GST.
O BEG, por sua vez, que engloba a participação de líderes religiosos, artistas, povos indígenas, afrodescentes, jovens, empresários, mulheres e formuladores de políticas, ainda contará com quatro encontros. A última reunião, referente à América do Norte, ocorrerá em setembro em Nova York.
Com todos os encontros concluídos, um relatório global será entregue à presidência da COP30 para encaminhamento a tomadores de decisão nos países. O processo também resultará em conteúdos que serão apresentados na zona azul, espaço das negociações na COP30.