SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto a solução diplomática para a Guerra da Ucrânia patina, um novo componente foi adicionado à equação do conflito nesta sexta-feira (22), com duras críticas da Hungria e da Eslováquia a um ataque de Kiev que cortou o fluxo de petróleo para os países europeus.
Os países são os maiores consumidores de petróleo cru russo no continente, tendo mantido suas cotas após a União Europeia iniciar o veto progressivo à compra de energia de Moscou, em dezembro de 2022.
No começo da semana, o vital oleoduto Drujba (amizade, em russo), que passava por repúblicas soviéticas como a Ucrânia até a Europa, já havia tido uma estação de bombeamento na Rússia atingida por drones ucranianos.
Nesta sexta, a unidade em Unetcha, que fica em Briansk (sul russo), foi bombardeada novamente. A previsão é que ela pare de transportar óleo para os europeus por ao menos cinco dias. O ramo do Drujba que passa por Belarus e entra na Polônia, levando petróleo do Cazaquistão para a Alemanha, não foi afetado.
“Isso é um ataque à nossa segurança energética”, escreveu no Facebook Peter Szijjarto, o chanceler húngaro. O comandante das forças de drones da Ucrânia, Robert Bovdi, por sua vez celebrou o ataque a uma fonte de renda de Moscou em postagem no Telegram.
Os húngaros são os maiores consumidores europeus do óleo russo, com R$ 1,3 bilhão do produto trazido em julho. Os eslovacos são os segundos, com R$ 1,07 bilhão, equivalente a 79% de todas as suas importações.
Ambos os países têm boa relação com Moscou, particularmente o premiê húngaro Viktor Orbán, um prócer autocrático e o mais vocal crítico das políticas europeias na guerra.
KIEV LANÇA NOVO MÍSSIL
O ataque coincide com a divulgação ucraniana de que está pronta para usar seu novo míssil de cruzeiro, o FP-5 Flamingo, que tira seu nome da pintura rosa do primeiro protótipo uma homenagem à presidente da fabricante Fire Point, Irina Terekh, e ao papel das mulheres na guerra.
Com alcance divulgado de 3.000 km, ogiva de 1 tonelada e velocidade subsônica, ele pode atingir qualquer ponto relevante na Rússia europeia e parte da asiática, como bases aéreas ou refinarias, além de ameaçar diretamente a capital, Moscou, que fica a cerca de 500 km da fronteira ucraniana.
Segundo o presidente Volodimir Zelenski, ele está sendo montado no ritmo de um por dia, mas até o fim do ano serão até 200 por mês. Seus motores são cópias de antigas unidades do avião de treinamento L-39 Albatros, da antiga Tchecoslováquia, que a Ucrânia opera.
A ação veio após um mega-ataque russo com 547 drones e 40 mísseis, um dos maiores da guerra até aqui, ocorrido na quinta (21). Houve novas ações nesta sexta, menos intensas no ar, mas com avanços em terra.
O Ministério da Defesa russo anunciou a captura de mais três vilarejos na região de Donetsk, no leste, algo confirmado por sites de georreferenciamento. A região está no centro dos debates sobre uma solução para a guerra.
Durante encontro há uma semana com o presidente Donald Trump no Alasca, Vladimir Putin sugeriu que aceitaria congelar a linha de frente nas duas regiões do sul ucraniano, Kherson e Zaporíjia, em troca da entrega de Donetsk (leste). Em todas elas, Moscou tem cerca de 75% de controle territorial.
A quarta região anexada e que faz parte da lista de desejos oficial de Putin, Lugansk (leste), já está totalmente controlada por Moscou. Pela proposta, ele ganharia 6.600 km2 remanescentes no leste em troca de desocupar 440 km2 que tomou das regiões de Sumi e Kharkiv, no norte.
Kiev não topa, mas a questão territorial perdeu espaço para o debate sobre garantias de segurança para os ucranianos em caso de paz. A Europa quer uma força multinacional para impedir novos ataques russos, o que Moscou descarta. Trump sugeriu apoio aéreo, mas sem dizer o que seria isso na prática.
O encontro tripartite anunciado por ele, com Putin e Zelenski, já virou a tentativa de uma cúpula só entre os rivais. A cada dia, sua chance de ocorrer parece diminuir, já que ambos os lados querem definições sobre o conceito de garantia de segurança.
O russo disse ao americano que toparia algum mecanismo de proteção mútua por uma coalizão de países, mas seu chanceler depois esclareceu que a Rússia teria de ser integrante do grupo. Com efeito, nesta sexta Lavrov voltou a dizer que não há nenhuma reunião agendada por ora com o ucraniano.
KIM HOMENAGEIA SOLDADOS NA GUERRA
Na Coreia do Norte, o ditador Kim Jong-un participou de uma rara cerimônia pública alusiva à sua participação na guerra. Ele condecorou soldados que lutaram na retomada da região russa de Kursk, invadida por Zelenski em agosto do ano passado.
Ele inaugurou, na sede do Partido dos Trabalhadores da Coreia, um memorial com a foto de 91 soldados mortos em ação, uma admissão inédita o serviço secreto sul-coreano coloca em até 600 as vítimas, entre os cerca de 12 mil militares foram colocados à disposição de Putin.
Kim abraçou familiares dos mortos. “Enquanto estou diante das famílias enlutadas dos soldados mortos, não sei como expressar meu pesar e minhas desculpas por não poder proteger nossos preciosos filhos”, disse.
A cooperação é fruto do acordo de defesa mútua entre Rússia e Coreia do Norte, assinado no ano passado. Ambos os países são potências nucleares, e Seul teme que um eventual conflito com o Norte agora seja objeto de retaliação compulsória por Moscou.