SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ator Marcos Caruso pediu nesta quinta-feira (21) que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) repense a decisão de despejar o Teatro de Contêiner do terreno municipal ocupado desde 2016 na Luz, região central de São Paulo.
“Não levem com vocês a mancha do fechamento de um teatro”, disse. “Esse teatro é referência para o nosso país”.
Em manifestação em vídeo, dirigida a Nunes e ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ator, dramaturgo e diretor disse ter ficado horrorizado com as cenas da ação da GCM (Guarda Civil Metropolitana) no local.
Na terça-feira (19), guardas civis fecharam o acesso dos artistas da Cia. Mungunzá, responsável pelo teatro, e do Coletivo Tem Sentimento a um prédio onde funcionava um antigo hotel e que eles usavam para guardar cenários e figurinos. Houve resistência e alguns deles foram retirados à força. Os agentes usaram spray de pimenta.
“O Teatro de Contêiner é motivo de orgulho para todos nós”, seguiu Caruso, no vídeo. “Construam habitações sociais utilizando o teatro como área de encontro e de lazer, de uma convivência que não se limita a uma cidade cheia de concreto”.
O ator disse que espaços teatrais promovem encontros, lazer, conhecimento , exercício da cidadania e diversão.
A gestão Nunes quer construir um projeto habitacional no local, nas proximidades das ruas onde ficava a cracolândia.
Após uma ampla mobilização de artistas e de estudantes de artes cênicas, a prefeitura prorrogou o prazo de desocupação, que vencia nesta quinta, por mais 60 dias, até 20 de outubro, e ofereceu o quarto terreno para a mudança do grupo.
A extensão do prazo era uma reivindicação da companhia, pois há uma agenda artística a ser cumprida no espaço. O pedido, no entanto, era que o Teatro de Contêiner ficasse no terreno até dezembro deste ano.
A peça “Elã”, da Cia. Mungunzá em parceria com a atriz e diretora Isabel Teixeira, por exemplo, é ensaiada no Teatro de Contêiner e tem estreia prevista para este ano.
Teixeira está entre os artistas, intelectuais, produtores culturais e profissionais de diversas áreas que assinaram uma carta pedindo ao governador e ao prefeito que interrompam a remoção do teatro. O documento tem mais de 7.000 assinaturas.
Entre os nomes que apoiam a incorporação do teatro ao projeto de redesenho urbano da área estão Marieta Severo, Giulia Gam, Grace Gianoukas, Camila Morgado, Marcos Caruso, Mateus Solano, Lilia Schwarcz, Elisa Lucinda e Marcelino Freire.
A atriz Fernanda Torres, protagonista do filme “Ainda Estou Aqui”, que venceu o Oscar deste ano de melhor filme internacional, enviou uma carta aberta ao prefeito em que pede a permanência do teatro em seu endereço atual.
Em junho, a mãe de Torres, Fernanda Montenegro, já havia divulgado em suas redes sociais uma carta com pedido semelhante. “Senhor prefeito Ricardo Nunes, estenda a sua mão e se junte a nós: o teatro brasileiro. A Cia Teatral Mungunzá é parte já da nossa história teatral. E representa culturalmente São Paulo. Pedimos: estenda a sua mão”, escreveu a atriz.
E a atriz Marieta Severo comparou a ação da Guarda Civil Metropolitana à repressão aos artistas durante a ditadura militar.