CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Esperança é o nome que Josilene Bertolin Irmer deu à árvore que resgatou de uma praça da cidade de Apucarana (365 km de Curitiba), no Paraná, após um temporal. Sua ligação com ela vem da infância, quando brincava em sua sombra com os irmãos. Sensibilizada com a queda, em dezembro de 2024, ela decidiu replantar o tronco que sobrou.
Com autorização ambiental, fez o transporte e o replantio até sua chácara, a 10 quilômetros do local original. Adubou, instalou irrigação própria, cerca e até câmera de segurança. Gastou R$ 18 mil. Cinco meses depois, surgiram os primeiros brotos, que hoje já enchem o tronco cortado.
“Conversei muito com ela, disse que fiz tudo o que pude e que agora só dependia dela. Foi quando os brotos começaram a nascer”, conta a empresária, que teve o apoio do marido, ambos do ramo de logística.
Foram necessários dois guindastes e um caminhão de grande porte para o transporte. A retirada, ela lembra, precisou ser feita rapidamente, já que Esperança caiu em cima de oito carros e teve seus galhos cortados pela prefeitura, sobrando só o tronco e algumas raízes.
Com 63 anos, a árvore é uma Ficus elastica, chamada popularmente de falsa-seringueira. Ela tinha cerca de 12 metros e ficava em uma praça em frente ao cemitério Cristo Rei, no bairro da Igrejinha.
“Apresentava pontos de apodrecimento na base do tronco, contudo, tinha algumas raízes boas, daí a ideia de replantá-la, mas inicialmente não seria possível replantar no mesmo local nem afirmar que ela se recuperaria em outro”, diz o secretário de Meio Ambiente de Apucarana, Diego Silva.
Ele destaca que a árvore foi plantada ali para inauguração do cemitério, em 1962, e que muitas pessoas da cidade têm lembranças boas dela, por sua sombra grande. Segundo ele, porém, nunca havia ocorrido um caso semelhante, de alguém pedir para replantar uma árvore que tombou. “Quando a Josilene nos procurou, a autorização foi imediata.”
A empresária, que chegou na cidade aos quatro anos e morava há duas quadras dali, recorda das brincadeiras de infância no entorno do tronco e das raízes, que eram tão grandes que permitiam que uma criança se escondesse atrás delas.
“Aos poucos foram asfaltando, fazendo calçadas e cortando suas raízes, aí começou a enfraquecer. Perdia as folhas, falavam que ia morrer, mas sempre se recuperava”, recorda.
No dia da queda, Josilene estava trabalhando e, quando soube, foi para o local com os filhos, que também brincavam embaixo da falsa-seringueira quando crianças.
“Toda aquela grandeza dela no chão me tocou. Peguei alguns galhos e pensei em plantar, mas não me contive só com uns pedaços e falei para o meu marido que ia pedir o tronco.”
Valdecir Irmer Júnior diz que, no início, achou que era brincadeira da esposa, mas, depois de ouvir as histórias e sentir a importância da árvore para ela, apoiou o projeto.
“Fui atrás dos guindastes e fizemos acontecer. Sempre buscamos preservar a natureza. Já fizemos replantio na beira do rio e buscamos conviver em harmonia com o meio ambiente”, afirma.
O casal conta que gastou, até agora, R$ 18 mil para o replantio de Esperança, pois ainda precisou contratar uma retroescavadeira para fazer o buraco onde ela foi replantada.
As etapas seguintes ficaram por conta dos conhecimentos da família. “Não contratamos nenhum especialista, foi na fé, na coragem e na conversa. Não plantamos exigindo nada dela. Foi tudo na sorte e no amor”, diz Josilene.
Dezenas de brotos já nasceram e hoje estão com cerca de 50 centímetros -tudo devidamente protegido. “Ela tem uma cerca de segurança para ninguém ir lá mexer. Temos também uma câmera de vigilância. Não se sabe, sempre tem a má-fé de alguém que possa querer arrancar um broto”, explica.
A moradora diz ter sentido uma alegria imensa ao ver a árvore renascer. “Uma coisa linda destas, que ia ser descartada, fico até sem palavras, pois ela tem a história de muitos apucaranenses, que sempre perguntam onde está a árvore. Eu digo que ela estava na UTI, mas que agora saiu da intubação”, brinca.
Josilene espera ver os netos brincarem, como ela e os filhos, na sombra da árvore. “Ela é birrenta, igual a nós. Não desistimos dela, e a Esperança também não vai desistir.”
Carlos Roderjan, doutor em ciências florestais pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), explica que a Ficus elastica é asiática, da família das Moráceas, das figueiras, muito comuns em climas tropicais, e que se multiplicam facilmente por estacas.
“É provável que a estaca gigantesca que ela transplantou emita inúmeros brotos, tornando-se um enorme arbusto, com futuros enormes galhos, voltando a ser uma enorme árvore. Então ela pode ter sucesso, embora não haja referências em transplantes desta natureza”, avalia.