SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após dar 15 dias para a Companhia Mungunzá deixar o espaço onde funciona o Teatro de Contêiner, na Luz, na região central de São Paulo, a gestão Ricardo Nunes (MDB) prorrogou o prazo por mais 60 dias, até 20 de outubro.

O documento estipulando o primeiro prazo, que chegou ao fim nesta quinta-feira (21), havia sido assinado e entregue em 6 de agosto. No texto, o subprefeito da Sé, coronel Salles, falava em uso de “gradação coercitiva” para o esvaziamento do terreno. A prefeitura afirma que pretende usar o espaço para um projeto habitacional.

Com a repercussão negativa da decisão, a prefeitura decidiu dar mais tempo para que a companhia encontre outro local.

Em nota divulgada nesta quinta, a gestão Nunes diz ter oferecido a quarta área legalizada para onde o teatro possa se mudar.

“Neste prazo, o teatro deve tomar as providências de transferência da rua General Couto de Magalhães para um novo local. Ao mesmo tempo, a administração ofereceu também nesta quinta-feira mais uma área para que o grupo se instale de forma legalizada. Com isso, a prefeitura, desde agosto do ano passado, quando começou a negociar com o teatro, já ofereceu quatro importantes terrenos na região central para a manutenção de suas atividades”, diz a nota.

Segundo a prefeitura, a nova área oferecida possui 1.043 metros quadrados, na altura do número 807 da rua Helvétia, ao lado da avenida São João e a menos de um quilômetro de distância de onde hoje funciona o Mungunzá.

“O endereço fica também a 100 metros de onde será instalado o Coletivo Tem Sentimento, que hoje funciona também na área ocupada irregularmente e que passará agora a ter o espaço legalizado. O novo terreno oferecido ao Mungunzá tem 41 metros de frente e 24 metros de fundo, tamanho que permite a plena execução de suas atividades”, destaca a gestão.

No comunicado, a prefeitura lista os locais dos outros três espaços oferecidos à companhia: um na rua Conselheiro Furtado, na região da Sé, outro na própria rua Helvétia, e o terceiro na rua João Passaláqua, na região do Bixiga.

“A Prefeitura de São Paulo reitera ainda já ter aportado R$ 2, 5 milhões em apoio às atividades do grupo. Com a transferência, a Prefeitura de São Paulo irá revitalizar a região, inclusive com a construção de um prédio de habitação de interesse social”, finaliza a nota.

A prefeitura chegou a montar um palco na tarde de terça para anunciar o projeto habitacional, mas desistiu horas depois da ação da Guarda Civil repercutir por meio de vídeos postados nas redes sociais.

Artistas e estudantes de teatro foram para o espaço prestar solidariedade e, em assembleia, decidiram manter uma vigília, com aulas públicas e apresentações.

Celebridades também usaram as redes sociais para sair em defesa da permanência do Teatro de Contêiner na Luz.

A atriz Fernanda Torres, protagonista do filme “Ainda Estou Aqui”, que venceu o Oscar deste ano de melhor filme internacional, enviou uma carta aberta ao prefeito em que pedia a permanência do teatro em seu endereço atual.

Em junho, a mãe de Torres, Fernanda Montenegro, já havia divulgado em suas redes sociais uma carta com pedido semelhante. “Senhor prefeito Ricardo Nunes, estenda a sua mão e se junte a nós: o teatro brasileiro. A Cia Teatral Mungunzá é parte já da nossa história teatral. E representa culturalmente São Paulo. Pedimos: estenda a sua mão”, escreveu a atriz.

E a atriz Marieta Severo comparou a ação da Guarda Civil Metropolitana no teatro à repressão aos artistas durante a ditadura militar.