BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, preso sob suspeita de ter matado um gari em Belo Horizonte, afirmou à polícia que não imaginou ter acertado alguém após ter disparado a arma em uma briga no trânsito.
O depoimento foi prestado na última segunda-feira (18), quando o suspeito confessou, de acordo com a polícia, ter sido o autor do disparo que matou o gari Laudemir de Souza Fernandes em uma rua da região oeste da capital mineira.
O advogado Leonardo Salles, que fazia a defesa do suspeito, deixou de representá-lo. A reportagem não localizou o novo responsável pela defesa.
Segundo a polícia, Renê Júnior afirmou ter visto os garis correndo após o tiro e disse ter imaginado que poderia responder “no máximo por um porte ilegal de arma de fogo”, já que suspeitou não ter atingido alguém.
Ele acrescentou que prestaria socorro caso tivesse visto que atingiu Laudemir.
Questionado pela defesa na ocasião do depoimento se demonstrava arrependimento, ele disse que sim, “por ter jogado fora a vida da vítima, dele [declarante], atrapalhado a vida da esposa, do filho, da família da vítima”.
O empresário, que cumpre prisão preventiva (sem prazo) em Caeté, na região metropolitana de Belo Horizonte, disse aos policiais que era sua primeira semana no novo trabalho, em Betim, outra cidade da Grande BH.
Ele afirmou que pegou escondido a arma da esposa, a delegada Ana Paula Balbino Nogueira, por estar indo a “local perigoso” e por não conhecer as ruas da capital mineira.
Disse que foi a primeira vez que pegou a arma dela, mas que tinha ciência de que o armamento era de uso pessoal de Ana Paulo.
A corregedoria da Polícia Civil mineira instaurou procedimento disciplinar para apurar a conduta da delegada. Até o momento, ela segue com suas funções na corporação.
No depoimento, o empresário afirmou que estava ansioso com o primeiro dia no novo trabalho e havia se esquecido de tomar remédio para tratamento de transtorno bipolar.
O suspeito disse que estava atrasado para o trabalho e decidiu pegar um desvio sugerido por um aplicativo de trânsito, contrariando as orientações da esposa.
Ao chegar em um beco sem saída, ele disse que pessoas no local sugeriram que ele retornasse, momento em que teria retirado a arma da mochila e a colocado embaixo de suas pernas.
Na sequência, ele teria se deparado com um engarrafamento causado pelo caminhão de lixo. Ele afirmou aos policiais que o caminhão deixou todos os carros à sua frente passar, mas que teria vindo em direção a seu veículo.
No momento, ele teria falado “meu carro é largo, não vai passar”, e quando passou ao lado do caminhão, a motorista teria gritado “ele está armado”. Renê Júnior afirmou que um dos coletores veio em sua direção, o teria xingado e dito “ameaçar mulher é fácil, quero ver fazer isso com um homem”.
O empresário disse que desceu com a arma de fogo em punho, apontada ao solo, e que o gari havia afirmado “com arma é fácil”.
O suspeito então teria levantado a arma e falado “quer resolver na mão, bicho?”, momento em que o tiro foi disparado. Renê Júnior reconheceu que Laudemir, que foi atingido, não estava participando da confusão.
O empresário negou a versão das testemunhas de que o carregador com as munições havia caído no chão no momento da discussão.
O empresário disse ainda ter recebido uma ligação da esposa durante o trajeto até o trabalho, mas afirmou que não teria comentado com ela sobre o ocorrido, já que ela havia o orientado a não seguir rotas dos aplicativos de trânsito.
O suspeito confirmou que passeou com os cachorros no prédio após ter retornado do trabalho e que guardou a arma no local onde costumava ficar. Ele disse que só soube da morte do gari quando foi abordado pelos policiais na academia, durante a tarde.