SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em alta nesta quinta-feira (21), à medida que os investidores voltam suas atenções para o início do simpósio econômico de Jackson Hole, promovido pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).

Um discurso do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, é esperado para sexta-feira e pode sinalizar os próximos passos da taxa de juros norte-americana.

Na ponta doméstica, o mercado ainda pesa o impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos, tendo a decisão do ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), como pano de fundo para as movimentações financeiras.

Às 11h45, o dólar subia 0,18%, cotado a R$ 5,482. Já a Bolsa caía 0,15%, a 134.453 pontos.

As atenções estão em Jackson Hole, sede de um simpósio global de banqueiros centrais em Wyoming, nos Estados Unidos. A grande expectativa está no discurso de Powell na sexta-feira— o último que ele deverá fazer lá enquanto chefe do Fed, tendo em vista o fim de seu mandato em maio.

Powell tem usado o palco de Jackson Hole nos últimos anos para sinalizar os próximos passos do Fed em relação à política monetária. Em 2024, por exemplo, anunciou que havia chegado a hora de cortar os juros, provocando uma forte desvalorização global do dólar nas semanas que se sucederam.

A expectativa é a mesma neste ano. Desde o início do mês, após a divulgação de dados fracos de emprego e de inflação, o mercado tem apostado que um corte nos juros poderá ocorrer já na próxima reunião do Fed, em setembro.

Operadores precificam 75% de chance de uma redução de 0,25 ponto percentual, segundo a ferramenta FedWatch, enquanto os 25% restantes apostam na manutenção dos juros na atual banda de 4,25% e 4,5%.

A probabilidade de um afrouxamento monetário tem caído nos últimos dias, revertendo os 100% vistos na semana passada. A divulgação da ata da última reunião do Fed, em julho, ajudou a diminuir os ânimos na véspera, levando a porcentagem de 88% para o patamar atual.

Isso porque o documento mostrou que os dirigentes favoráveis a um corte parecem isolados entre os demais membros do comitê. “Quase todos os participantes consideraram apropriado manter a faixa da taxa de juros entre 4,25% e 4,50% nesta reunião”, diz a ata.

Os dirigentes Michelle Bowman e Christopher Waller votaram pela redução de 0,25 ponto percentual para proteger a economia de um enfraquecimento ainda maior do mercado de trabalho. Os outros, porém, se mostraram mais preocupados com um possível repique inflacionário por causa das tarifas do presidente Donald Trump.

O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de emprego e de inflação para decidir sobre a política monetária. O objetivo é levar a inflação à meta de 2% sem grandes danos ao mercado de trabalho.

Tendo em vista esse objetivo, o tarifaço de Trump colocou o Fed em uma sinuca de bico. As sobretaxas tendem a aumentar os preços ao consumidor e a desacelerar as contratações, e a taxa de juros em um patamar contracionista, como o de agora, tem efeitos diferentes para cada uma das pontas.

Por um lado, juros altos contêm a disparada inflacionária por desestimularem a tomada de empréstimos e o consumo. Por outro, afetam as empresas, que podem reduzir o número de funcionários ou parar as contratações, resfriando o mercado de trabalho.

Já um corte nos juros traria o cenário oposto: estimularia a inflação e também aqueceria o mercado de trabalho.

O discurso de Powell na sexta-feira poderá mostrar se ele se uniu àqueles que acham que chegou a hora de tomar medidas para proteger o mercado de trabalho de um enfraquecimento maior, como Bowman e Waller, ou se ele continua alinhado com aqueles que são mais cautelosos com a inflação.

A perspectiva de cortes de juros pelo Fed pode favorecer o real devido à percepção de que, com a taxa Selic em patamar alto por tempo prolongado, o diferencial de juros entre Brasil e EUA permanecerá favorável para o lado brasileiro.

No mercado doméstico, o foco segue à decisão do ministro Flávio Dino, que considerou que ordens judiciais e executivas de governos estrangeiros só têm validade no país se confirmadas pelo Supremo.

A decisão foi dada em ação sobre o rompimento da barragem de Mariana (MG) e não diz respeito diretamente à disputa entre Brasil e Estados Unidos. Na prática, porém, indica que o ministro Alexandre de Moraes, colega de corte de Dino, não pode sofrer as consequências da imposição da Lei Magnitsky, da qual foi alvo em julho pelo governo Donald Trump.

Como sinalizou o magistrado, instituições financeiras do país podem ser penalizadas se aplicarem sanções contra Alexandre de Moraes. Essa percepção fez o setor derreter na Bolsa na terça, tendo perdido mais de R$ 41,3 bilhões em valor de mercado.

Relator do julgamento em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado, Moraes está na mira do governo Trump desde o mês passado. O magistrado é acusado de determinar prisões de forma arbitrária e suprimir a liberdade de expressão.

Quando anunciou a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, Trump vinculou a ameaça, entre outros pontos, justamente à suposta “caça às bruxas” de que Bolsonaro seria vítima.

Enquanto o governo brasileiro tenta negociar com os EUA, o mercado viu a decisão de Dino como um novo entrave às conversas, assim como uma possível razão para uma resposta mais dura do lado norte-americano. Investidores temem que a reação possa impactar bancos que não cumprirem as determinações das sanções.

“O noticiário local está pautando o mercado, isso me parece claro, apesar de termos uma agenda importante lá fora. O driver é político majoritariamente. Embora essas questões geralmente tenham impacto pontual e agudo, e não crônico”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.