SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A mensagem errada do Diretor de Comunicação do São Paulo no grupo de informações para a imprensa expôs algo que já vem ocorrendo nos bastidores do Tricolor há alguns meses: o racha entre a turma do Morumbi e a turma da Barra Funda, já antecipando cenários eleitorais.

A estrutura do São Paulo é dividida em três sedes: o Morumbis é o local de trabalho de toda a diretoria, exceto do Departamento de Futebol, que fica baseado no CT da Barra Funda, hoje chamado de SuperCT. Completa a trinca o Centro de Formação de Atletas (CFA) de Cotia, exclusivo para a base.

Há alguns meses, os executivos do Morumbis vem se estranhando com os líderes do Futebol. O principal tema de debate é a questão financeira e o ano de ‘cinto apertado’ vivido pelo Tricolor.

O ‘Morumbis’ defende cumprir rigorosamente o orçamento do ano e vê o Futebol como principal fator problemático por não se adequar ao teto financeiro. O Departamento estourou R$ 43 milhões do orçamento previsto no primeiro semestre.

Já a ‘Barra Funda’ vê o orçamento como algo irreal e impossível de ser cumprido. Cartolas se mostraram incomodados com a total ausência de investimento para montar uma equipe, mas têm seguido as normas e realizado apenas contratações sem custos. Para equilibrar o déficit causado no semestre, o Departamento já vendeu quase R$ 200 milhões, cerca de R$ 50 milhões acima do que rege o orçamento.

O principal objetivo do ano são-paulino é ter superávit e isso foi uma imposição da presidência, que fica baseada no Morumbis. Não sem deixar clara sua posição de dúvida sobre o planejamento, o Futebol acatou as ordens, mas não conseguiu diminuir a folha salarial da forma como pedia o orçamento.

Esse racha foi exposto na mensagem errada enviada pelo diretor de comunicação do clube, José Eduardo Martins. O profissional enviou em um grupo com toda a imprensa que cobre o clube a mensagem: “Vou vazar que o Boca queria emprestar de graça o Henrique, mas o presidente segurou”. “Boca” faz referência a um apelido pejorativo de Carlos Belmonte.

A mensagem revoltou o diretor de futebol, mas Casares respaldou Martins. O diretor de comunicação alega que a mensagem tratava-se de uma brincadeira. Ele se reuniu com Belmonte para se desculpar, mas a relação pessoal do dois foi bastante afetada.

Todo esse conflito que já se arrasta há meses tem fundo político. O diretor de futebol Carlos Belmonte era apontado como sucessor de Julio Casares na presidência, mas recentemente perdeu força para um nome ‘do Morumbis’: o Superintendente Márcio Carlomagno. O mandato de Casares vai até o final de 2026.

Belmonte ainda não definiu se será candidato caso não tenha o apoio de Julio Casares, mas não descarta a hipótese. O atual presidente detém enorme maioria no Conselho e a tendência é que seu indicado seja eleito como novo mandatário.

Fontes ouvidas pelo UOL apostam que Carlos Belmonte não termina o ano como diretor de futebol do São Paulo. Alguns apontam certa insatisfação da ‘turma do Morumbis’ com o trabalho do diretor, o que pode levar a uma decisão de tirá-lo do cargo. Belmonte, por outro lado, não tem intenção de sair, nem mesmo após o episódio. Seu desejo neste momento é terminar a gestão de Casares como diretor de futebol, cenário que só mudaria caso ele opte por ser candidato à presidência e não conte com o apoio do atual mandatário.

O presidente Julio Casares procurou o UOL na manhã desta quinta-feira (21), após a publicação da matéria, e se manifestou sobre o cenário eleitoral. Ele pediu calma e foco no trabalho atual.

“Já ouvi muitos nomes de possíveis candidatos e sei de pessoas que estão articulando para serem presidente, mas ainda é cedo para tudo isso. Essa postura só atrapalha o São Paulo. Tudo na vida tem o momento certo. No ano que vem vamos falar sobre eleições. Até lá, todos precisam trabalhar para o bem do clube, alcançando as suas metas. Precisamos seguir nosso trabalho com foco e isso não mudará até o fim da gestão”, declarou o presidente.