SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A atriz Marieta Severo comparou a ação da Guarda Civil Metropolitana no Teatro de Contêiner, na região da Luz, em São Paulo, à repressão aos artistas durante a ditadura militar.

“É com profunda indignação e tristeza que eu falo de uma cena lamentável, horrível, que eu vi ontem e que infelizmente me remeteu aos piores tempos de uma ditadura que eu vivi, onde os teatros eram invadidos, os atores eram ameaçados”, disse, em vídeo postado pela filha mais velha, Silvia Buarque.

Na terça-feira (19), guardas civis fecharam o acesso dos artistas a um prédio onde funcionava um antigo hotel e que eles usavam para guardar cenários e figurinos. Houve resistência e alguns deles foram retirados à força. Os agentes usaram spray de pimenta.

O caso aconteceu em meio à disputa entre a Prefeitura de São Paulo e o Teatro de Contêiner. A prefeitura entregou uma ordem de despejo ao grupo e deu prazo até esta quinta-feira (21) para a desocupação do espaço.

A administração de Ricardo Nunes (MDB) tem a intenção de construir um projeto habitacional no local, nas proximidades das ruas onde ficava a cracolândia. O terreno é ocupado pelo grupo teatral e por movimentos sociais há quase dez anos.

“É um tipo de cena que eu nunca imaginei que pudesse voltar”, continuou Marieta. Ela questiona o tratamento aos artistas e diz que não há mais espaço para isso no Brasil.

“Quero deixar aqui a minha tristeza profunda por esse momento e a minha vontade, a minha esperança de que isso não aconteça mais”, afirmou. “Vivemos em uma democracia plena, precisamos dela, gostamos dela, queremos viver nela e esse tipo de cena não pode acontecer”.

A prefeitura chegou a montar um palco na tarde de terça para anunciar o projeto habitacional, mas desistiu horas depois da ação da Guarda Civil repercutir por meio de vídeos postados nas redes sociais.

Artistas e estudantes de teatro foram para o espaço prestar solidariedade e, em assembleia, decidiram manter uma vigília, com aulas públicas e apresentações.

Nesta quinta o teatro vai receber um show gratuito do projeto “Negras Melodias”, às 20h. O evento será também um ato contra o despejo.

A atriz Fernanda Torres, protagonista do filme “Ainda Estou Aqui”, que venceu o Oscar deste ano de melhor filme internacional, enviou uma carta aberta ao prefeito em que pede a permanência do Teatro de Contêiner em seu endereço atual.

Torres pede a reconsideração da decisão, para que o projeto de construção reserve “um espaço para manter o teatro de Contêiner Mungunzá aonde ele se encontra”. Ela lembra que o teatro tem raízes no local onde se desenvolveu. “É um teatro de praça, aberto ao público e, apesar do cuidado da prefeitura de encontrar um outro espaço para que as atividades da trupe continuem, este lugar não atende às características do trabalho desenvolvido no teatro da rua dos Gusmões”, descreve.