MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de Santa Catarina realiza nesta quarta-feira (20) operação contra suspeitos de aplicarem o golpe do falso advogado. A ação cumpre mandados de prisão e busca e apreensão em seis estados São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte.
Ao todo, 11 pessoas foram presas oito eram alvo de mandados de prisão e outras três foram detidas em flagrante durante a operação. Três suspeitos estavam foragidos até o meio-dia desta quarta-feira (20).
No Rio de Janeiro, equipes do DGPC (Departamento-Geral de Polícia da Capital) cumpriram mandados na Ilha do Governador, Cabo Frio e Campos dos Goytacazes. Três suspeitos foram presos até a publicação deste texto. Além disso, foi realizada busca e apreensão contra um investigado por invasão de dispositivo informático, em parceria com a Polícia Civil de Santa Catarina.
Em São Paulo, foram cumpridos 12 mandados de busca e cinco de prisão na capital paulista, Guarulhos, Itaquaquecetuba, e São Vicente. Policiais do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), Dope (Departamento de Operações Policiais Estratégicas) e das seccionais das cidades participaram da operação.
Segundo as investigações, os criminosos se passavam por advogados regularmente inscritos na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santa Catarina, utilizando dados de processos judiciais para induzir vítimas a realizar depósitos de custas inexistentes. Os golpistas enviavam documentos autênticos ou fabricados, como sentenças e guias de pagamento, prometendo a liberação de valores que nunca eram entregues.
A polícia catarinense identificou prejuízos de até R$ 100 mil às vítimas do golpe. Segundo a OAB-SP, desde agosto do ano passado já foram identificados 17,5 mil denúncias do golpe do falso advogado em todo o país, e 3,5 mil denúncias só no estado de São Paulo.
Inicialmente formados por pequenos grupos no Ceará, em municípios como Fortaleza, Pacatuba e Maracanaú, os envolvidos passaram a expandir suas atividades. O esquema evoluiu da coleta de informações simples em fontes abertas para a invasão de sistemas de tribunais, de onde eram extraídas peças processuais utilizadas na fraude.
As apurações apontaram ainda uma sofisticação do golpe, com participação de suspeitos de outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte. Muitos deles utilizavam credenciais de advogados e servidores da Justiça, ampliando o alcance e a gravidade das fraudes eletrônicas.
Entre os crimes virtuais identificados, há o caso de um juiz que teve sua conta no Portal Gov.br que possui serviço de certificação digital de identidade e é vinculada ao CPF do usuário invadida pelos criminosos.
O inquérito foi aberto há cerca de quatro meses, após a seção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Joinville passar a colaborar com a Polícia Civil no envio de informações sobre os golpes aplicados contra clientes dos associados.
“A gente recebe semanalmente uma enxurrada de boletins de ocorrência”, disse o vice-presidente da OAB em Joinville, o advogado Guilherme Aquino Reusing Pereira. “Eu mesmo fui alvo dessas fraudes, várias vezes.”
Num dos casos mais graves entre os seus clientes, segundo Pereira, uma mulher que foi atropelada e perdeu as duas pernas pagou aos golpistas um total de R$ 20 mil, suas únicas economias, em três transferências via Pix.
De acordo com o advogado, os criminosos disseram que ela havia ganhado a causa e o pagamento era necessário para liberar uma indenização, mas na verdade o processo judicial ainda não havia encerrado.
Embora as vítimas sejam de Joinville e Blumenau, os criminosos estavam em outros estados. Os investigadores tentam confirmar se há algum envolvimento de facções criminosas no esquema.
As suspeitas partem do fato de que, no Rio de Janeiro, dois integrantes de um grupo que aplicava os golpes estavam no Morro do Dendê, na Ilha do Governador, área dominada pela facção Terceiro Cuidando Puro. Em São Paulo, investigadores também encontraram indícios de que um suspeito conversava com um membro do PCC (Primeiro Comando da Capital), mas nenhuma prova de que a facção participava dos golpes.
A investigação ainda não chegou ao número total de vítimas nem ao prejuízo total aplicado pelos golpes. Os investigadores pretendem apurar isso a partir de agora, com as informações que serão coletadas a partir da apreensão de celulares e computadores.
Foram expedidas 66 ordens judiciais, incluindo 27 mandados de busca e apreensão e 12 de prisão.
Os mandados foram expedidos pela Vara Regional de Garantias da Comarca de Joinville (SC), com manifestação favorável da 2ª Promotoria de Justiça. Houve ainda o apoio da Polícia Civil de Minas Gerais e do Núcleo de Inteligência do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Em nota, a OAB-SP afirmou que criou uma cartilha de orientação contra esse tipo de golpe e uma força-tarefa que atua em todo o estado de São Paulo. A entidade “reforça a orientação para que advogados e vítimas registrem boletins de ocorrência imediatamente, informando todos os detalhes do golpe, como números de telefone envolvidos (vítima e golpista) e tentativas de pagamento”, diz a nota.